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sábado, 18 de dezembro de 2010

Eu já esperava por você


Vamos, chega logo, acaba com essa tortura. Chega pra que eu possa dizer eu já sabia que um dia eu iria te conhecer. Acaba com a minha paz. Vem com a entrada pra um novo mundo, novas aventuras. Fecha os olhos e não fala nada até que eu termine de formar toda a sua personalidade, caráter, prato preferido e histórias de vida na minha cabeça,conforme a minha imaginação mandar. Me dá um pé na bunda, mas espera eu pensar no nome dos nossos filhos primeiro. Me espera te imaginar ao meu lado criando eles e sentir que estou como mulher cumprindo o meu papel inevitável de idealista...ai sim. Me livra de toda cheiro de lavanda, porque com certeza eu vou estar cheirando a lavanda, eu vou estar com um cabelo respeitável e um sorriso de miss. Por isso eu vou te implorar, chega logo e me da um banho de angústia e lágrimas limpas e novas, novas em folha. Nunca mais as lágrimas guardadas e reutilizadas. E eu vou te idolatrar por isso. Me tira toda a culpa ou me culpa mais ainda pelos amores que eu não correspondi. Me ensina uma outra forma de querer. Me faz ter novos planos, sonhos e projetos. Me ensina que eu posso, que eu sempre posso e que não depende de você ou de outro coração qualquer, mas de mim e só de mim.Cuspa para o lado, dê de ombros e me deixe descobrir de novo o meu caminho, minha capacidade, meu sorriso livre. Leva a minha moral, meu orgulho, leva a minha vergonha, minhas calcinhas velhas. Compra uma passagem para a frança e me diga “au revoir" da forma mais brega que você puder e conseguir transformar nossa vida intensa e dramática. Não olhe para trás, tenha um pouco mais de fibra. Nesse dia eu vou desabafar, vou dar uma festa, vou convidar quem já não fazia diferença, e todos que sempre fizeram. Vou levar seu sorriso debochado da estante para o cesto embaixo da pia e me deparar com estranhos alí na minha cozinha com seus copos de bebida, cada um tentando te afogar do seu próprio jeito, tentando te esquecer em risadas embriagadas, assim como eu, tentando esquecer as tuas milhares de faces. Vou beber até cair, sentar e ajoelhar. Vou paquerar desaforadamente alguém que finge me amar, que engana a si mesmo, porque é você que ela ama, porque todos te amam. você esta em todos os lugares, você sabia disso? Se há alguém que ainda não sabe do que estou falando, é porque não te conheçe, ela ainda vai um dia encontrar você. Eu um dia vou encontrar você. Você é um ítem obrigatório na experiência de vida de alguém. se alguém ainda não passou por você, não sabe ainda o que é existir, não está completo. Vou chorar descaradamente na porta do banheiro enquanto alguém não sai. Enquanto você não sai, não sai da minha vida. Entra logo, pra que eu possa prosseguir.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Tempo da perfeição



Depois de um dia cansativo eu abro a porta do meu quarto e uma rosa vermelha em cima do meu travesseiro me faz achar que você esta no quarto ao lado. Eu corro, eu rodo a casa em passos largos e ansiosos e você não esta em canto nenhum, e não me pergunte o porque, mas eu sei que foi você, tenho certeza. A minha respiração ofegante vai amenizando, silênciando, me lembrando da baita fome que dá depois do trabalho no finalzinho da noite, me lembrando que eu não posso recair e tenho que segurar o choro. "Melhor assim". Então, respiro aliviada. Entro novamente no quarto e o teu notebook esta em cima da minha cama e me faz achar que você esteve por aqui, não sei qual hora, não sei o que eu fazia no momento, não sei porque. A toalha que você esqueceu pra me lembrar que você é parte de mim, de repente esta molhada, me relembrando que o vermezinho que se alimenta do nosso amor foi a parte que me coube da partilha. Eu te mando embora e você vai, e sai resmungando e me culpando de todas as desgraças do mundo, sendo que minha única e verdadeira culpa é não saber te amar. É não esquecer que não da certo. É não saber me controlar. É repetir os passos insanos e afundar o pé. É não saber se te beijo ou não, enquanto você me dá banho como se fosse uma espécie de redenção a todos os banhos com gelo, com sal e com aquele climão pra te tirar da embriaguez. Deixa a minha caixa de mensagens respirar. Eu sou apenas a lata do lixo e o vermezinho roedor não te faz companhia, não esta ao teu lado entre a respiração cansada e o travesseiro cheiroso. Vai, vai logo, mas deixa a flor dentro do copo pra eu olhar e lembrar que você existe. Que não há só vulgaridade nesse mundo. Que ainda existem mulheres de caráter. Ainda existem mulheres de coração puro e honesto, caso um dia eu queira sair de novo na rua. Quem sabe um dia nos encontremos naquele tão aguardado e falado tempo da perfeição. Perdoa os buracos que faço e refaço na tua cicatriz. E que o amor cuide de nós... por onde formos.

sábado, 20 de novembro de 2010

Sem neurose por favor


Me sinto feliz por não ser uma daquelas mulheres neuróticas que ficam do lado do telefone e que imaginam o celular vibrar de 5 em 5 minutos e olham só pra conferir. Que não esperam um pedido de casamento no segundo encontro. Que não se imaginam não conseguindo mais viver sem a pessoa no terceiro encontro. Mas queria tanto te ver agora. Queria que você estivesse mais perto ,tão perto que eu não me encontrasse. Queria te desvendar num bom vinho a meia luz embaixo da lua. Queria esbarrar meu pé no teu essa noite, mas acho que só vou esbarrar nas minhas mãos amarradas.Vou ver aquela tua desordem engraçada e rir sem sentir o ventinho do teu sorriso no canto direito da minha nuca ao me acompanhar. Sentar em um café e ver como o teu rosto tem uma nuance bonito quando o sol pega ele nesse ângulo assim meio pro lado. Seu sorrisinho charmoso fechando a boca pro lado e sorrindo com o nariz. Os músculos do teu rosto inteiro se movem proporcionalmente, e a tua testa franze acompanhada de um olhar pedindo carinho, que desarma qualquer outro compromisso. E eu quero congelar na minha melhor fotografia e ter pra sempre um pedido teu no móvel ao lado da minha cama. Quero os teus enganos, e não vou cansar de querer até eles serem todos meus. Quero rir do teu jeito de falar infantíl pra me mostrar o quanto é singelo a sensação da nossa presença. Sentir teu olhar falando sozinho, todo particular, sem nenhum medo do meu não estar participando da conversa, pois não faz diferença, não é o teu ego, é teu coração, eu sei, eu vejo. É como aquela vez, olhando você cair desastrada do canto da cama e rir achando que nada no mundo pode competir com aquilo, nenhuma luz de velas, nenhum pôr do sol na praia, nenhuma palavra, grito, risada ou sussurro. Olhar as primeiras letras do meu nome cravadas nas tuas costas, num adeus desesperado, rasurado. Me ver indo embora e as minhas iníciais ficando pra sempre na tua pele e mergulhar nelas toda vez que lembrar de você indo e o telefone não tocando, e eu não olhando, não esperando, não vendo nossa casa, carro, filhos, piquenique de domingo, zoológico,criança lambuzada de sorvete, alguém surtando, cobertor quentinho com vários pezinhos pequenos roçando nos nossos. Tudo isso que sempre sonhamos,falamos, preso em 2 inícias tatuadas em uma costela, em um tornozelo, em uma alma. Poise, me sinto feliz por não ser neurótica, por esperar tudo explodir por dentro, calada, anestesiada. Bem-vindo amanhecer. Seja você bem viva, enquanto eu existir, seja onde for.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Enlouquecendo mais do que deveria


A solidão chega e eu tento me acomodar melhor no sofá. Me cubro dos pés a cabeça na esperança que a minha capa invisível me proteja de mim mesma, de você, do mundo, dos telefonemas, das atualizações na internet, das tuas fotos. Eu quero você pra mim, mas preciso de espaço pra não depender só do teu amor, quero tuas frases e gestos românticos, mas morro de medo de te ligar, porque não vou saber o que fazer se não ouvir depois que já quero tanto. Mas se eu ouvir de fato, vou ter ganho você e querer bater a cabeça na parede, porque vou te amar desesperadamente e vai doer pra caramba. A porra do medo do futuro vai doer no meu corpo inteiro. Vou beijar o travesseiro enquanto você não chega, e vou querer me ter de volta porque descubro que já estou completamente sua e não quero ser sua, porque significará que não sou mais minha, e eu sou o meu único porto realmente seguro. Eu não vou saber o que você pretende ao me amar, e nem sei se eu vou te amar pra sempre, e caso eu não te ame pra sempre, perdi um tempo filho da mãe beijando paredes com saudades de alguém que não era nem o amor da minha vida. Afinal como eu vou saber que você não vai mudar, me decepcionar. E como eu vou saber se é isso sem me deixar completamente vulnerável pra me estrepar inteira e ser esmagada por um trator de sentimentos. Se essa capa funcionar você não vai me encontrar, nem meus CDs escondidos da Bethânia, que eu me recuso a ouvir agora só pra não pensar melhor em você a cada palavra “malditamente” enfeitiçada que vai me fazer te querer mais e ter mais medo de não te ter. Eu que não queria ficar ocioso, falhar, nem chorar, de repente me vejo acordando cedo pra tomar café. Ainda acho acordar cedo uma merda. Mas quero ter mais tempo pra pensar em você e não quero desperdiçar um minuto dos meus sorrisos insistentes, nem minha asfixia de músicas imoralmente melosas que a um tempinho atrás passavam despercebidas por mim. Ainda acho que romantizar um “me passa o sal”, ou um “oi, como você está?” ou mesmo uma ligação inesperada, é desnecessário demais, mas de repente aqui estou eu deitada no sofá embrulhada na minha capa protetora do mundo certinho, da grama sempre mais verde do vizinho, do vento que não desregula, do pai que se agacha pra abraçar o filho na entrada de casa, do carro novo do seu amigo, dos novos cortes de cabelo da moda, daquele cheiro bom de quem acabou de sair do banho, ouvindo Norah Jones, tentando ser o meu próprio mundo dentro de você. O tempo gasto fingindo que os CDs melosos não estavam ali, e que se estavam por alguma razão eu era mais forte que qualquer sentimento incontrolável, pra que? Parece mesmo que não tem como fugir, você tenta mais só o que pode fazer é ouvir as porras das músicas melosas. Eu mato o filho da puta que ganha dinheiro incentivando o suicídio emocional alheio. Ainda to deitada no sofá, ainda sorrio bobo, ainda entro em um transe oriental com as benditas, ainda romantizo coisas aparentemente sem sentido. Faço planos e espero, espero levar um tombo e cair de cara na sarjeta, ou então que você me tire debaixo da minha capa e me traga de volta ao mundo suicida, totalmente admissível quando é ao seu lado, e me sirva um chocolate quentinho na varanda fria no clarear da manhã enquanto planeja me amar para sempre.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Você quer amar?




Eu não vim ao mundo para refazer a história. Eu falo com as mãos erradas. As minhas palavras e o movimento das mãos se desencontram entre o frio no estômago e o nervosismo de fingir que sabe o que vai dizer logo em seguida, mas esqueceu de avisar aos gestos. Não quero o tal casulo, quero o tal gesto. Não quero te ajudar a não pensar, eu quero que você esteja pronta, pronta para sincronizar seu pensamento com o meu. É como quando alguém tosse atrás de você na escada rolante e você olha pro lado, olha pro outro, tenta não pensar no fato enquanto prende a respiração e imagina seu cabelo cheio de germes alheios. Tudo bem que ele já estava meio sujo mesmo, mas era a minha sujeira entende, não quero ter que limpar do meu ser a sujeira alheia, quero que alguém se suje comigo, que você se suje comigo, pule de cabeça na nossa própria lama, talvez ela seja medicinal, pensa. Porque vai ser nossa, só e basta pra mim. Não quero a sujeira dos outros no meu calcanhar. Quero um banho ao teu lado, sair do banheiro pra vida, enroladas na mesma toalha, com frio e pensando num chocolate quente, as paixões passando por nos aqui, novas e lavadas, prontas para chafurdar nas flores. Eu acho que pra amar você precisa tomar banho, banho de alma e tudo. Se pra isso tiver que vomitar em um segundo encontro, que seja então. Vomita, mas sobe em cima do trem em movimento pra secar o coração e viver intensamente. Toca na minha alma, como se fosse o musical da Björk, como se estivéssemos a um fio dos trilhos, mas tão naturalmente leves que assim entendemos que não precisamos ter medo, mesmo que outros fiquem apreensivos. E se você ousar me amar? Se esquecer como não aconteceu e criar uma página em branco. Então leva um vinho e as boas intenções. E eu lavo a vontade confusa, tiro a casca, mordo, e se o dente não quebrar,como a maçã do filme que vimos juntas, se não tiver nada, se o beijo não ficar duro, se eu ousar emprestar do amor, se eu parar de falar tanto "se", se você me beijar com toda a sua gana de me viver pra que eu pare de falar tantos se’s e te olhe profundamente depois, e todas as cruzadas passassem pelo meu estômago e meu coração apertasse pelo teu abraço. Pode crer que realmente o coração tambem iria junto.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Meu pequeno coração imundiçado




Eu quero uma carona para o marco zero dos desencontros. O QG dos sentimentos vazios, errôneos, intensos, preguiçosos, medrosos, confusos. De onde eles sincronizadamente se varrem como num ritual, possivelmente até em ordem alfabética. Dizem as más línguas que eles rondam encontros ao redor de fondues perto de lareiras, ao redor de copos de whiskys em boates, de vinhos em restaurantes caros, para no final de camas baratas, de olhares comprometidos, não estarem de fato em lugar nenhum. As paixões não param, o tempo corre, e você passa voando pelos dois. Antes, na época dos fins de tarde cheios de brisa, conversas agradáveis e nenhum medo de ser feliz, eles cortavam caminho pela minha rua, hoje moro em apartamento, mas lembro que brincava na porta de casa quando vi um deles passar pela primeira vez. Um sentimento limpinho, bem calçado, com os cabelos penteados, sedosos e um olhar seco e perdido, carregava um par de sapatilhas, não correu, andou olhando pro chão. Eu pulava elástico e parei para ver o amor passar. O amor não cantava, dançava balé, mas esperei uma serenata que nunca existiría, em todas as tardes que se seguiram, com aquele elástico meio imundiçado na mão direita, com aquele coração meio imundiçado no meu peito esquerdo. Aos olhos do mundo e aos meus também - por amar uma bailarina. - Certa vez, na brincadeirinha intencional das frutas, com o olho não totalmente coberto, fiz cair sobre ela à salada mista, logicamente não deu certo, mesmo que desse, nem eu sabía de fato se queria realmente aquilo. Meu impulso foi o mais perto que cheguei do amor que morava no final da minha rua, e passou a dormir no meu pensamento confuso depois daquele dia, em todas as noites de que me lembro. Passava também pela minha janela quase toda manhã. Hoje não tenho mais medo desse coração que não sabia se era meu, nem se era de fato como o elástico. Não olho mais dentro da barca de sushi, pra disfarçar o olhar na mesa ao lado, nem me importo com a vulnerabilidade de festas noturnas, nem com a maldade em olhares de mentes pequenas que tentam devorar a nossa paz interior. Não paro de beber whisky porque é quando encontro um sotaque Francês ao longe e adoro ouvir música Francesa, não sei explicar, mais me sinto tão leve quanto a docilidade do som que ecôa na pronúncia. Ainda penso em comprar um radinho de pilha e sentar na janela pra ver o próximo amor subir a minha rua, ver os sentimentos sofridos que pegam atalhos, vendo tudo tomar seu lugar depois que o medo e a ignorância passar.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Do alto do meu mundo colorido


Às vezes parece que todo mundo me abandonou. Como assim? Todos me amavam tanto ontem. Não entendo. Juro que só fui ali fazer um café. Parece até um complô. É um grande, insensível, perverso e desnaturado complô entre pessoas que nem sequer sabem da existência uma das outras. A multidão anda sorrindo, não sei bem do que, não me convidaram, e saem sem olhar pra trás, sem dar nenhuma explicação, como se eu nunca merecesse ou precisasse mesmo. E talvez nunca saiba se isso é bom ou ruim. Bom, meu amigos viraram uma organização secreta,tão secreta que não sei onde estão agora. Logo hoje que to meio desorientada. Mas é justo nessas horas de drama excessivo e solidão inexplicável, que de repente alguém especial cai de paraquedas na sua frente. Eu deixo o chão de lado e miro meu olhar. Abro uma janela no canto do coração, pode ser pra sempre ou só essa noite. Enquanto eu penso a rua enche, os carros voltam para casa, a lua ilumina ilusões e eu admiro um gesto, uma voz baixinha, uma poesia dentro de uma caixinha de bailarina, e me guardo embaixo de um olhar preso em uma fotografia. Deixo a noite seguir seus próprios planos. As pessoas seguem para suas festas idênticas e de cima do meu mundo eu procuro ela. Não sei como ela é de pijama, não sei se da bom dia ou se acorda de mau humor, se casa, se comida, se vendeu os sonhos ou emprestou a juros, se posso serrar a grade que os cerca, se tem um computador na garantia, cheio de fotos que desconheço, se um dia serão conhecidas, se ela vive bem com a solidão, ou se ela não sabe o que é a solidão, se ela vale à pena amar, se eu preciso ser muito mais que um coração aberto, torcendo pra ela não ser metade da perfeição que sempre idealizo de alguém no primeiro encontro, torcendo pra ela falar besteira e rir de si própria, pedir pizza e comer com a mão, dar pulos de alegria descompassada por uma coisa boba, sem perder a sua facilidade em ser autêntica, madura, inteligente e sofisticada. Me puxar pela mão e me fazer sentir o vento no rosto e sentir a sua mão e o seu rosto, e o seu coração acelerar junto com sua respiração, tão perto que a escuto falar, a escuto querer. E que toda a perfeição chata que eu idealizei vá por água abaixo. E mergulho na multidão contente e passo por baixo de pernas. Eu desconheço a sua historia mais reconheço o brilho único do olhar bicolor. Ela chega e não diz nada do que eu imaginei, ela me liga e eu desligo intrigada e mesmo ainda vendo tudo desfocado, a Alice que vive em mim e corroe meu ventre, trabalha e trabalha. Meu coração multifuncional me fala de uma realidade, onde você empresta amor a juros e paga as contas do coração no 24 horas. Mas que se dane. Só o Wood Allen se importa com isso. Eu vejo um furacão. Meu relógio atemporal atrasado como sempre, me faz lembrar do meu paÍs das maravilhas. Nele vejo o amor entre dois corpos idênticos, é tão irreal e tão real que queima. Espero você chegar na ventânia e eu abro meus braços dentro dela e me deixo rodopiar. Você que vem no furacão, te espero no alto do meu mundo.

sábado, 18 de setembro de 2010

A última placa cortante



As lojas fecham, a noite cai... O dia começou colorido e terminou acinzentado. Lágrimas de sangue pisado e coração pisado, e uma ligação voa. Um estrondo e já é muito tarde para comprar cigarro. Me agarro a uma lembrança boa, me agarro a um copo de cerveja, em tudo o que não existe e em mais nada. E se esse texto ficar ruim, a minha noite vai ficar pior, porque nem nele vou poder me agarrar. Estou no nono andar e me sinto sem o chão. Nem a lua consigo ver da janela, provavelmente ela deve ter tido mais o que fazer. O moço do quiosque do outro lado da avenida, deve estar vendo filme agora com os pés inchados em cima da poltrona, e meu sangue quente deu meia volta de mãos abanando. Não tem cigarro, não tem quiosque, nem bêbados fora da idade de estarem bêbados batendo ponto. Tem somente o canto do sofá da sala do meu amigo e uma Black Music tocando no notebook que ilumina a sala. Quero dançar em uma boate, cheia de rancor e vontade de não estar em lugar nenhum. Eu não pedi nada, mas você bateu a cabeça no fundo, e algo ficou roxo entre meu coração e a alma. Cercada de quadros antigos, estante de livros, de filmes de arte e um vento frio entrando pela janela do nono andar, passando pelos dois e chegando a mim. Lembro que quero te devolver o livro que você me emprestou, da menina que fugia da morte enquanto roubava livros, não sei mais nada sobre ela. Fugir da vida é bem mais louco e irreal, por isso ainda acho que ela estava no lucro. Mas preciso devolvê-lo talvez sem aprender a fugir de livros, nem roubar a morte, que a essa altura já deve ter dado meia volta ao ver a placa de um endereço temporariamente desativado. Atravesso a rua com o martelo e os pregos que sobraram em minhas mãos. Cansei de cartazes, cansei, esse é o último aviso. Sento na beira da praia, o vento corta, o frio corta, a noite corta, mas porque só o que sai da tua intimidade cortante me dói?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Bela Merda



Sabe aqueles dias em que você acorda e pensa: “Que merda”. Porque justo ontem você ficou em casa?! Se você soubesse! Que merda achar que é uma merda você não ser adivinha. De repente você lembra da merda que disse, e da graças a Deus pelo sossego do sofá macio no sábado a noite. Mais ai você pensa no frio e na pipoca, e lembra que foi uma merda consumi-los sozinha apesar de ter adorado o filme. Frio não faz muito sentido quando se esta só você e um balde de pipoca no sofá da sala. Dá licença. Chegou na hora errada, volte talvez no próximo final de semana, porque por via das dúvidas, vou estar mesmo naquele aniversário. Não se preocupe, tenho o seu contato, te ligo qualquer mudança de planos. É uma merda ainda faltar mais de dois meses para o fim do ano. Foi uma merda fazer uma mancha preta em cima de uma pedra, só para satisfazer os egos afora. A pedra é importante porra. A pedra não deixa de ser pedra por um capricho. A pedra é a pedra e pronto, deu pra entender? Deixa a pedra quieta! Ninguém mexe mais nessa porra de pedra. É uma merda acordar de ovo virado sem motivo aparente. Você procura e acha. A merda é quando você nem procura. Mais que merda é essa afinal que todo mundo tem um ex amor. De repente você virou só o passado irritante na vida de uma terceira que nem sequer te conhece. Ou alguém que você talvez nunca viu, se tornou o passado irritante da vida de alguém que há pouco tempo você nem sabia que existia. Enquanto isso as pedras estão por ai, sempre trocando de sapatos. Se você nunca foi, um dia vai ser. Merda, é quando você é a dona do sapato. Eu sei.

domingo, 5 de setembro de 2010

Espelho meu, espelho dela



Ela entrou e saiu da minha vida. E entrou de novo. Saiu de madrugada na ponta do pé, teve medo que eu me envolvesse. Eu fingi que dormia e que não vi, tinha medo que ela ficasse. Eu dizia: “Não, ela não, já chega!! Menina doida.Aff! É legal, bonitinha, mas é doida, doidinha da silva, coitada”. É esquisita, todos dizem, todos acham. Até a astrologia, na qual ela é viciada, joga na sua cara a sua esquisitice. "Aquário - o signo dos esquisitos". O porteiro diz "Essa menina é esquisita!" mas sorri e da bom dia, e ela retribui enquanto tenta engolir o café da manhã quase caindo das suas mãos entre livros e pastas, porque pra variar, perdeu a hora. As meninas a olham, não tinham coragem de ser ela; "Deus me livre! É muito esquisitinha, gostamos do fato de sermos fáceis de ler, nos abre portas a cada esquina". O que elas não sabiam, é que ela não queria as portas da esquina, e disso ela sabia bem. As portas pequenas e fáceis não lhe eram muito abertas, pois ela não obedecia aos padrões baratos e comuns, obrigatoriamente necessários para se trabalhar para pessoas triviais e habituais. Ela queria seu próprio castelo, e não queria ganhá-lo na mega sena, ela queria conquistá-lo, pois aprendeu cedo a dar valor as coisas conquistadas por ela mesma. Por isso acorda cedo para escovar os dentes, e me aparece sonolenta no espelho do banheiro todas as manhãs. Ela fala alto, e as vezes ri também. Come com aquela fome que faz todos a volta se perguntarem pra onde raios vai tanta comida afinal. Acho que ela é magra de ruim. Até seu metabolismo é esquisito. Ela põe um pouquinho de cabelo atrás da orelha, e ri enquanto esta brigando e deveria estar serio. As vezes sem necessidade, quando viu já coçou a nuca, mal sinal, ela vai se zangar. Se expõe demais, doa-se muito fácil a um sorriso transparente, e as vezes, aos não transparentes também. As vezes não age, apenas sorri, vai para o meio da pista e deixa acontecer a obra do acaso. As vezes tão segura e leve, age e pronto, mas sai antes do despertador tocar. As vezes, só para buscar o café da manhã, as vezes, para procurar onde deixou a cabeça, bem longe dali, deduz. Ela nunca sabe, quem dirá eu. Ela até tenta fazer a linha blasé, séria, recatada e misteriosa, mas quando viu já esta rachando de rir de alguma piada boba, e que as vezes nem era uma piada. Mas pior que isso, é quando ela ergue a sobrancelha direita e despeja suas teorias de mesa-de-bar. Chata, chata, chata!!! Há! Mas ela nunca sabe tudo e não tem vergonha disso. -Não conheço, o que é?- As vezes ela tem umas tiradas que ninguém entende, as vezes nem ela mesma entende. Ela se encanta com o mundo e suas minúcias a ponto de dançar sem música, ou seja, só pode ser doida. Os momentos em que não se sente em seu habitat natural, sai à francesa, deixa por minha conta, ela sabe que sempre dou conta. Ela esta em mim, e eu estou nela. Por várias vezes quero domesticá-la, domá-la, ensina-la a ser mais durona. Mas do que adianta, se meu próprio coração é vulnerável. Quero que ela seja menos mística, mas categórica, seletiva e inalcançável, porque sei que assim as pessoas vão querê-la mais. Pois a verdade é que sempre se interessam por quem não lhes da muita atenção. Parece algo haver com superação, ego, em se fazer merecer. Mais quando chego, lá esta ela, abrindo sua vida para o primeiro sorriso que lhe abriram, cheia de sorrisos. Lá esta ela na frente da televisão, escrevendo àquelas receitas da Ana Maria Braga em seu caderninho, e que guarda pra fazer em dias especiais, porque acordou sem nenhum motivo aparente, super animada e disposta. Ela sabe a discografia de Chico Buarque de trás para frente, mas dança Lady Gaga até o chão e até a segue no twitter. Apesar de tudo as vezes acorda se sentindo a mais banal da sua espécie, mesmo Amelie Poulain sendo o seu alter ego. Uma vez ela comprou algemas em um sexy shop, e nesse dia se sentiu a mulher mais descolada e moderna do mundo. Ela ri até chorar com “A era do gelo” e vai do riso ao choro com “Procurando Nemo” e se sente feliz e privilegiada por ainda poder ser tão boba. Ela sempre chega depois, vai nas boates nos dias errados, liga para quem não deveria, deixa de ligar para quem deveria. À muito não liga para ninguém, apesar de ainda aguardar a sua princesa encantada com uma rosa na mão. Ela gosta do amarelado das fotografias, mais odeia roupas de cor amalera, ela acha brega, nem ela sabe porque. Ela não é nada interessante, ela só é complicada, o que a primeira vista pode parecer um estilo cult, mas no fim das contas, é só bobeira e esquisitice mesmo. E enquanto estou aqui cercada por essa bolha que me protege do mundo primitivo e preconceituoso, a invejo. Ela esta lá fora, pulando e saltitando de um lado para o outro, tentando agarrar a vida que acabára de pousar em uma flor para se alimentar, e ela a observa com um sorriso atencioso. E eu a vejo, ela sou eu.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

A garota que traia



Ela era a garota que não conseguia ser fiel e eu queria conhecer o mundo dela. - Eu não sei não trair - me disse no intervalo entre uma música e outra. Ela e seu violão eram inseparáveis. Ela tocou para mim na porta da sua casa, quase todas as noites por quase um ano. Ela tinha uma voz sexual, e as caras e bocas que fazia quando cantava, eram dignas da fogueira da inquisição. Ela me despia com os olhos entre uma e outra canção. Ela não se intimidava com absolutamente ninguém e me olhava com ganância, sede e fome. Ela fez sexo comigo várias vezes ali naquela porta. Eu sei! Ela não me tocava, nem tentava! E isso me enlouquecia. Por mais estranho que pudesse parecer, ela tinha seu próprio jogo de sedução. Ela me contava histórias do seu mundo de meninas, e eu via todo ele no seu cheiro, quando a abraçava e seus cabelos roçavam meu nariz. O medo meio besta que sempre tive de pôr em prática o que já havia me deixado noites em claro, agora tinha um foco: Aquele mundo. E ela, a minha porta de entrada. Era isso. Da minha parte, eu só queria matar minha curiosidade cheia de fantasias, e da parte dela, ela só queria matar minha curiosidade cheia de fantasias. E assim a gente se entendia. E assim nós seguíamos o jogo. Ela nunca ficava só em casa. Naquele horário em que as moças educadas ainda podiam estar nas casas alheias, sentávamos no seu sofá, uma em cada canto, de frente pra outra. E em uma profunda, longa e ininterrupta olhada, íamos perdendo as roupas. Eu dizia o que queria com o olhar e ela obedecia. As luzes se apagavam num complô cadenciado. Quando via, tentava me segurar numa cama qualquer e ela me puxava para debaixo dela. Eu entrava na fila do supermercado e de repente estava lá de novo. Na sala, no sofá, na cama, no tapete, no chão, calculando a distância entre o seu umbigo e o meu, antes e depois da minha língua secar. O sexo com ela era o mais perfeito, ritmado, paciente, avassalador e incansável. Tudo acontecia no chão do tapete, ou seria no tapete do chão... Nem sei qual a concordância, e quem se importa com a ordem. Afinal não conseguia pensar em nada mesmo que não fosse o seu umbigo. Aliás!Conseguia sim... Mas o barulho do chuveiro desligando desvia nossos olhares, e fazemos aquela propícia cara blasé enquanto alguém passa de toalha. Mas enfim! Se um dia houvéssemos chegado às vias de fato, teria estragado tudo.

sábado, 28 de agosto de 2010

“E assim eu me apresento”


Um olhar, um desejo, um medo. A reflexão mais nostálgica de uma xícara e um cinzeiro numa noite de insônia. Uma brisa, e tudo o que é novo me invade. É o meu sangue que corre, é o meu coração que pulsa, numa roda, num bar, em qualquer lugar da boêmia, pura ou com gelo. É a certeza que tenho de todas as minhas incertezas camufladas que me formam e me dão sentido. Sem isso não sou, sem isso não quero, sem isso não tem porque. É o vício que nasceu comigo. Eu não sei quanto amor me foi jogado placenta adentro, mas nasci transbordando. Hoje sou rio, cachoeira, enchente, enxurrada que precisa sempre desaguar. Não adianta! Sem a brisa leve do vento tocando o meu rosto, enquanto fecho os olhos e enxergo a minha alma. Sem o chá de outrora já frio em cima da escrivaninha e todas aquelas razões pra minha insanidade, loucura que me alimenta. Sem o meu coração testando toda a sua resistência...-Eu não sei pra que sirvo.-
O maldito amor.
O Bendito amor.
O escasso, inalcançável e utópico amor
-É todo meu!-

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Aquele vento no litoral

(foto-autor desconhecido)

Quando a música tocou a primeira vez eu te amava. Você ia para longe de mim, e ela fez todo o sentido com todos os clichês que existem em um coração apaixonado. E o medo de um dia te perder, me fez chorar cada letra que já era nossa. E eu sorri a tua presença.
Quando a música tocou a segunda vez, você já estava longe. Aquela distância foi talvez a melhor parte do nosso amor. A mais segura. A parte em que dormíamos com a certeza uma da outra. Em que éramos só uma voz ao telefone todas as infinitas madrugadas. E eu chorei a tua ausência em todas elas. E eu esperava.
Quando a música tocou a terceira vez, tudo era onda violenta no mar, uma ampulheta desregulada. Tudo sangrava, tudo chovia, tudo era um vento forte em uma eterna tarde a beira mar. O nosso sonho já não era nosso, era alguma coisa inventada que já não nos pertencia. Estragamos cada canto,cada fresta, cada cômodo do nosso apartamento com todas as nossas palavras cortantes, enquanto as estrofes se desprendiam uma a uma. E eu? Eu me procurava.
Quando a música tocou novamente, perdi as contas. Você não era mais meu sono bom. Você agora era a minha embriaguês. Não sei por onde você andava, quando não estava na minha insônia. Mais sei que a tal canção estava em cada gole, no cheiro do álcool, no peso do gelo, no fundo onde te encontrava e fingia não te procurar. Eu chorei a sua ausência, eu chorei a nossa ausência, em cada palavra, e mesmo o mar me dizendo que a vida continua - Eu morria!-
Quando a música tocou foi agora a pouco, eu estava no banho. Eu não te via mais no reflexo do box, não cheirava mais a você a minha toalha, e pela primeira vez eu não tive medo de escutá-la até o fim. Não era mais dor, era alguma coisa com um nome novo, era outra vez alguma coisa boa, uma vontade de me cuidar, uma vontade que você estivesse bem. O coração desprendeu, e eu sorri de leve enquanto lavava os cabelos. Sorri não querer mais chorar ao ouvi-la, sorri não cheirar mais a lágrimas secas o meu travesseiro. E lembrei! O plano era ficarmos bem.

sábado, 21 de agosto de 2010

A lua cheia de “se”


Se você me visse agora, encostada na minha escrivaninha pronta para dormir, mas tendo isso como último plano. Se você me observasse segurando a xícara do café que eu bebo devagar, na sua espera. E você simplesmente não falasse nada e só me amasse intensamente. Se ao invés dessa tragada eu pudesse te tragar com o olhar nesse momento. Eu entenderia porque anoitece, porque a fumaça tem som de blues. Agora eu entendo a madrugada, é pra isso que ela serve, para que eu possa sorrir pra essa lua cheia tentando se esconder atrás do teu olhar, enquanto você saboreia o meu silêncio com a devoção de quem sabe o que é amar. Se você pudesse tocar os meus cabelos, se você chegasse mansinha e pegasse a minha mão, eu não precisaria te contar meus segredos, meu mistério te bastaria. Se eu sentasse a tua mesa e você me oferecesse um drink, enxugasse minha lágrima com o canto do indicador, me falasse dos teus planos, me colocasse no teu colo, o brilho do teu sorriso formaria um arco-íris no breu do meu. Se a tua estrada fosse outra que não a minha, você odiaria todas as minhas loucuras e eu te botaria pra correr. Se você não tivesse nascido, eu teria um chamado para o celibato. Se você não estivesse me procurando, eu já teria filhos, um cachorro e uma história.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Minha Estrela pequenina


Menina!Para de esbarrar em mim com o corpo todo suado como se fosse sem querer,todas as vezes que eu passo do lado da quadra espaçosa do teu sorriso. E eu paro de me exibir pra você quando to pulando elástico de frente pro seu campeonato de cartas marcadas. Não me olhe como se eu fosse só a primeira amostra do que a vida te reserva. Quando você ainda nem consegue perceber, que o que a vida te reserva é tudo o que você já sabe e tem medo de ter certeza. E eu paro de te olhar como se tudo o que eu desejo estivesse por ai, ainda a tua procura. Você ainda nem sabe quem é de fato,mas experimenta me pagar um milk-shake com as moedinhas que você economizou durante a semana, só pra me mostrar que você pode ser muito mais. E eu te dou os milhões de retratos teus, que os meus olhos tiram todas as vezes que te vejo,só para te colecionar, caso ao amanhecer você evapore como um sonho bom. Me deixa subir no teu ombro pra que eu possa ficar tão alta, como quando sinto o toque (sem querer) da tua mão na minha, no corrimão da escada depois que bate o intervalo dessa vida miserável e hipócrita. Quando você parar de fingir que não me ama, não sei se trapacear no pêra, uva, maçã e salada mista, sob olhos de um outro mundo, vai me tirar esse medo que também sinto de me perder num caminho escuro e sem garantia de volta, no percurso entre cada estrela que brilha bem no alto do céu da tua boca. Eu quero ver quando essa mão subornada que finge que tapa o teu olho a cada amanhecer, te deixar ver também quando não for eu, pra que assim eu possa perceber que você escolheu negar o afago de outra mulher. E que quando teus olhos se abriram, na tua cama vazia ainda permanecia o meu cheiro, intacto e guardado. Ai sim!Te entregarei os meus sonhos, embrulhados na fitinha azul que prendia o meu cabelo quando te vi pela primeira vez. E nessa noite me leve a um bom restaurante, trajando o teu melhor sorriso. E dance comigo ao som do jazz a meia luz. E quando um blues começar a tocar , perceba o sinal. E me dê de uma vez aquela estrela guardada na caixinha de jóias, que você foi buscar antes mesmo de me reconhecer. Enquanto eu vagava perdida pelas ilusões da vida. E que você guardou até esse momento embaixo do teu travesseiro, enquanto eu limpava o meu ser até ecoar, de todas as promessas não cumpridas que só serviram pra me fazer ver que ainda não era você, e ficando mais uma vez a espera da tua luz que me faria sentir viva.Porque o simples brilho dos olhos,acenderia o cosmos ao nosso redor e calaria toda promessa vã,secaria toda lágrima de decepção e sararia todos os aranhões que sofri, escalando os muros que me impediam de ver o brilho que escapava do teu travesseiro, e atravessava a tua janela, durante todas essas noites, em que você incansavelmente me esperou entrar pela tua porta, com uma rosa na mão.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Eu já!


Você já amou? Pela beleza do gesto!
Você já mordeu? A maçã com todos os dentes!
Pelo sabor do fruto!
A sua doçura e o seu gosto! Já se perdeu algumas vezes?
Pelo sabor do gesto?



(Texto extraido do filme "Les chansons D'amour")

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Carta para aquele futuro verdadeiro amor





Não, eu não sou bailarina, mas se quiser posso fazer um demi-pliè totalmente pessoal. Não, não é ela, ela é baixa demais, eu tenho 1,70 m e com certeza não me comportaria dessa forma. Sim, eu já chorei por você, mas só nas vezes em que vi que ainda não te achei. Claro que vou te abraçar na madrugada chuvosa, mas sou um pouquinho menos perfeita do que você imagina. Sou um pouquinho neurótica, um pouquinho esquisita e, às vezes, acordo com um humor do cão. Não gosto de rotina e odeio excesso de cobrança. Na verdade, não sou nada perfeita. Mas, sei que esta parte vai ficar escondida atrás do meu sorriso convidativo ao receber um carinho teu.Veja só: se ela fosse eu, se atiraria daquela forma para aquela desconhecida no bar, sem ao menos notar a sua presença? Não, definitivamente não. Tudo bem, talvez eu não consiga ser muito boa em fazer o seu prato preferido, mas, vou te abraçar forte quando você estiver assustada e te dizer que está tudo bem. O meu nome é o que menos importa - já que você vai me reconhecer pelo olhar. Então...Não tente adivinhar ok. Han? Se eu estou perto? Tipo, na mesma cidade? Não se preocupe, o caminho até o seu coração já foi desenhado, não há como não chegar, mesmo que a distância seja entre continentes. Agora, tenta não abarrotar muito a tua bagagem, porque eu estou chegando apenas com o meu coração no bolso esquerdo. Não se preocupe tanto com aquelas feridas que ainda não cicatrizaram - com certeza, não vou chegar aí sem um “kit primeiros-socorros”. Não, eu não estou olhando pra essa lua cheia agora, porque - ao invés disso - estou deitada na minha cama escrevendo pra você. Posso sim te acordar com um café da manhã na cama, vestindo algo desarrumadamente sexy, se prometer me agradecer com esse sorriso bobo que você faz agora enquanto está pensando nisso. Eu sei, eu também queria chegar mais rápido ao nosso tempo, mas a estrada tá meio congestionada, às vezes fico na ponta do pé pra ver se estou mais perto,às vezes acho que estou, às vezes não. Enquanto isso, se a noite esfriar um pouco e ela não te cobrir, se ela não compreender teu olhar pedindo carinho, se ela não te abraçar depois de uma briga, se ela não dançar e sorrir pra você como se não existisse mais ninguém no mundo que importasse, se ela não souber olhar nos olhos, se ela não é confusa e apaixonada, se ela não for um pouco implicante, um pouco manhosa, um pouco louca, um pouco sonhadora, um pouco medrosa, um pouco livre e se ela não consegue enxergar cada uma de todas as tuas cores. Fique atenta, essa definitivamente não sou eu.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Eu falhei


Eu falhei. Eu te tirei do teu casulo e te pus a beira do precipício do meu coração. Eu sonhei de novo e achei que seria fácil. Não fala nada, não adianta, eu vou andar pelos becos e ruelas da vida e te dar as costas. Você vai ser feliz e me odiar, eu vou ser feliz e me odiar. Tudo esta caminhando como deveria. Estou cansada. Vou revirar latas e cheirar postes na madrugada enquanto espero que você encontre logo um novo amor. Vou entrar no primeiro botequim e beber cada uma dessas palavras que em nada me ajudam. Você? Você vai chorar, se formar e ganhar o mundo. O que eu poderia estragar já estragou. O que você poderia reconstruir já passou com o tempo. Acabaram as fichas de você. Desculpe, vou ter que desligar dessa história. Vou comprar minha passagem, vou sentar naquela poltrona e ler meu livro novo. Vou flertar com a linda mulher que acabou de sentar do meu lado, me comeu com os olhos e sorriu perigosamente. Enquanto você me esquece por ai. Quem sabe um dia a gente se esbarra em algum canto do mundo. Cada uma com seu novo amor, e você lindamente feliz me apresenta seus filhos. Depois partimos cada qual pro seu lado e talvez olhemos disfarçadamente para trás...ou não.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Só por hoje cansei

Vem logo. Chega perto. Hoje é você que eu quero, é o teu dia. Hoje eu te permito ir a forra. Entra sem pedir licença. Compra a minha briga. Me faz um convite - daqueles bem cafajestes - pra subir, e me surpreenda com nossas afinidades inventadas. Me conte todas as histórias de carochinha do teu acervo e me faz sorrir. Me traia e não me conte, hoje eu quero a desculpa mais lavada que tiver. Não quero teu amor eterno, quero provar as tuas artimanhas. Não me coloque pra dormir, nem me abrace, hoje eu quero sentir frio. Não meu bem, não fale com jeitinho, você já me tem na sua cama. Me provoque, me sufoque, me engane. Quero sentir as garras afiadas da vida bem no meio das minhas costas. Quero aprender com cada arranhão. Quero renovar as minhas forças e sugar as tuas. Se algumas lágrimas pedirem passagem, não se preocupe, elas não são pra você.Ops! Não me olhe profundamente depois do sexo, siga meu conselho, vire pro lado e acenda um cigarro. Troque o meu nome na hora H, vá em frente, não quero juras de amor. Só por hoje não quero que me prenda.
Por isso,cuidado,não se apaixone,nem tente me fazer.
Hoje não quero nada que doa.

sábado, 24 de julho de 2010

Noite passada (tentando ser lírica no dia14/07/07)

Textinho antigo(não é muito bom não...mas é o melhor que da pra postar hoje =D)Espero que gostem...

Ontem eu não era uma boa companhia. Atordoada em uma crise súbita de existência. Dediquei-me ao vicio tóxico da fidelidade. Fidelidade aos meus sentimentos, ao meu eu lírico. Sem nada esquecer, essa claramente não foi uma das noites em que trai a solidão. Depois de privar os meus amigos da minha presença de espírito. Mesmo em meio a diversas tentativas frustradas
De me fazerem participar das conversas e risos que rolavam naquela mesa. Eu continuava insistindo a me esconder dentro de mim, tanto quanto a muito tempo eu não fazia. Ainda com alguns flashes na lembrança de
momentos, palavras, pessoas e idéias que trouxe na mente, do
Teatro e que me acompanharam e povoaram ainda por uns momentos a minha mente. Depois tentei não levar o desprazer da minha nostalgia a aquelas pessoas que ali estavam comigo. Dei alguns sorrisos amarelos e ate me atrevi a cantarolar com a Sam: alguma coisa de “construção” se me lembro bem. Quando então cheguei em casa
Me desapeguei de todos os panos que já sufocavam o meu corpo. E encarei seria e introspectiva a quem aquele espelho refletia,na tentativa de descobrir em que parte de mim me desprendi. Quem sabe encontrar uma resposta muda
Dentro de um olhar já intimo. Enfim não obtive nenhum avanço. Me restou apenas tentar me transportar a algum lugar onde a história não fosse minha, as dores, os traumas, os medos, estivessem expostos em outra moldura. Na qual eu pudesse me dar ao luxo de fazer apenas uma análise fria dos sentimentos alheios.E então fui procurar um livro,encontrei em meio as tralhas que guardo, a “poesia errante de Carlos Drummond de Andrade”
e quando me deparei com:
"PASÁRGADA,O SOFA DESSE APART,RECADO AO POETA E PROCURANDO UMA ALEGRIA"
Veio pela primeira vez uma coisa a ficar clara na minha mente. -Só entenderá o poeta aquele que sofrer-, e então como num passe de mágica a poesia inexplicável se torna clara. A partir dali, só por aquele momento deixei de lado a minha existência e mergulhei no coração do poeta noite adentro.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Entre um salto e um all-star



O dia mal começa e ela já está na terceira chamada do meu cel. Daqui a 2 horas eu tenho que levantar para trabalhar, mas quem se importa? Ela? "São 5 da manhã caramba, vai dormir, não tenho tempo agora para sua ressaca moral. Dá um tempo vai!" Mas, pior do que a ressaca moral dela é a minha ressaca teatral. Acho que esqueci de voltar ao meu eu ontem à noite antes de dormir. Acordei, talvez, ainda dentro desse personagem medíocre de mal amada conformada, não sei bem. Meu cabelo cheira a vodka e meu orgulho dói. Será que uma aspirina resolve? Enquanto me dirijo a cozinha, os flashs da noite anterior vão se desenrolando feito filme de terror. Esquece a aspirina, eu quero um anestésico! Preciso não lembrar que fui até o meio do fundo do poço essa noite. Não que eu tivesse orgulho suficiente para não me deixar cair tão fundo. Mas é que a aquela altura do campeonato, depois de um copo quebrado na mesa e ceninhas patéticas de ciúmes de ambas as partes, eu já não sabia nem dizer mais pra que lado ficava o fundo. Ela pisou e chicoteou o resto de orgulho que me sobrou depois dela. Ela esfregou três mulheres diferentes na minha cara lavada e passada, com uma arrogância tamanha, enquanto eu ali sentada na mesa no canto da boate assistia tudo, de frente para todo o circo e com um masoquismo de dar inveja. -Nem vem, nem chega perto.- Tá! Agora resolve chorar, agora chega de mansinho, pede licença, me puxa pelo braço, cheia da razão que me roubou. Mas depois de tudo isso, não entro mais no teu vale movediço, não mais, nunca mais. E mesmo que eu quisesse sacrificar as sobras do meu orgulho, você não deixou o suficiente para isso essa noite. Hoje foi a última gota, aquela quase seca. Vou agora me afogar no porre que acabou de me sorrir pela terceira vez do meio da pista. Ela não usa all-star. Ela esta de salto e acredite, pretendo fazê-la descer divinamente. Já que me recuso a descer catastroficamente do meu, diante de tuas provocações. No susto, me viro, meus olhos enxergam faíscas e vêem pela fechadura o nada em que você me transformou. Te vejo agora aqui na minha frente, na forma de um mosaico mal montado, com esse copo vazio na mão. E por alguns traços teus que ainda consigo ver, não te falo e te faço enxergar o nada que acabaste de se transformar para mim. Simplesmente te pego pela mão, ao final de tua cena e te ponho em um taxi. Tropeço em um salto jogado no chão, que não me pertence. Não adianta me ligar, vou voltar pra cama, pois ela está quentinha e o dia amanheceu frio hoje. Tomamos um banho e ela lavou a vodka que você derramou em seu rosto, enquanto eu lavei você, derramada em meus pulmões. Enfim o ar esta leve.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sou eu



Sou eu, quem bate na porta do teu sono todas as noites.
Sou eu, te ligando quando você acorda assustada achando que ouviu algo.
Sou eu, quem te cobre quando você não entende o frio passar de repente, na madrugada. Mas o teu sono ta tão grande e você não para pra pensar muito.
Poise!Sou eu.
Sou eu, o olhar misericordioso naquela criança do farol.
Sou eu, quem buzina atrás, porque você se distraiu e quis retroceder.
Sou eu, a gota que cai do copo gelado onde você tenta me afogar.
Sou eu, quem, sentada no banco da praça te olha e te guarda, enquanto você segue e não sente medo.
Sou eu, a referência que te deram.
Mas você!
É aquela,
Que me mata um pouquinho mais,
Todos os dias.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Me segura vai


Eu olhava para a colher com aquele remédio amargo e criava forças para colocá-lo na minha boca. O ruim de ser adulto é porque você mesmo tem que colocar a colher na boca. Era tão mais fácil quando eu era criança e alguém me segurava enquanto minha mãe abria minha boca e empurrava goela abaixo. As vezes eu queria que alguém me segurasse, abrisse minha boca e socasse tudo que não entendo desse mundo goela abaixo e pronto. Seria tão mais simples. As vezes eu queria que tudo o que eu não sei sobre a vida me fosse enfiado goela baixo. Dói mastigar o mundo devagar.As vezes brilha,mas é apenas vidro mesmo, e sangra.Cansei de sangrar,quero o mundo goela abaixo. Talvez assim o meu talento para entortar corações, incluindo o meu, diminuísse um pouco. Mas você sim, você me dava tudo na boca, você me dava seu amor, sua dedicação, suas tentativas infinitas de paciência, suas respostas tortas fatigadas, suas implicâncias já tão íntimas, suas imposições, sua impulsividade, seus gritos no meu sono, sua dor calada, seus bloqueios, aqueles que eu tirei e aqueles que surgiram por minha causa. Você me enfiou tudo goela abaixo e eu fiquei tão abarrotada de você, que de tão pesada eu nem saia mais de casa, nem do espaço cercado do meu coração. Já não tinha mais espaço para os meus dramas, dores e soluços, porque tudo era sugado por você, te deixando pesar do pior que eu poderia oferecer. Eu queria ser melhor, melhor pra você, melhor pra mim, mas eu não consigo nem ser melhor pro nosso cachorro, aquele mesmo que nem chegamos a ter. Então na falta do cachorro pra me olhar agora com desprezo e decepção, eu mesma me olho, eu mesma me renego, lato, gritando pra dentro do meu ser, como somente seres de alma pura como os cachorros conseguem fazer. Eu agora imito, como quem diz –você não vai fazer nada?- com o olhar que beira entre a ira e o pedido de misericórdia, porque o cachorrinho pidão que vive em de mim, te quer de volta e até meu egoismo te quer de volta. E só por isso ele,assim tão canino, me da uma trégua e se deita aos meus pés agora, esperando que você surja e me pergunte se eu quero chá. Eu não sei ser adulta e eu não sei te chamar de volta. Por isso arromba a porta, se enfia goela abaixo e arranca de uma vez esse nó que se instalou na minha garganta. É tudo o que eu te peço.

domingo, 4 de julho de 2010

Entre bolinhas, br’s e todos os tipos de certeza

"Textinho de fim de Domingo. Espero que gostem"


O rádio do vizinho me desperta meio atônita. Enquanto centralizo o universo ainda desfocado nos meus olhos fechados, Rita Lee canta “Meu doce vampiro” e eu acordo com gosto de sangue na boca. Eu poderia muito bem comprar uma Harley Davidson e sair pelas br’s "the guevareando" com uma mochila nas costas abarrotada das minhas certezas. Com os cabelos soltos,a alma solta e principalmente com o coração livre leve e solto. Mas a minha bola de chumbo de estimação pende para fora da minha cama, esticando a corrente e me fazendo lembrar quem é que manda. Decido então ir bater perna no centro da cidade. Ela me olha e meu coração treme, não consigo sair do lugar. Ela é minha e eu sou dela, e esse certeza que magicamente nos envolve naquele momento me puxa para dentro da loja. -Ela é perfeita e eu vou levá-la-. Pego, e sem provar me dirijo ao caixa, antes que a fatídica realidade do valor daquela blusa, me cause a angústia típica de quem vai fazer o último ato de compulsividade com o seu cartão de crédito quase estourado... Entro na fila. “Você deveria ter menos verdades absolutas na sua vida, são elas que te impedem de crescer” diz a garota para a namorada á minha frente. Ela olha para o lado e suspira. E naquele momento aquilo me atinge como um soco no estômago. Atinge todas as minhas verdades absolutas, uma a uma. Ela sai da fila e a namorada fica lá, sozinha, convencendo a si mesma de que não se importava. E lá estávamos eu e ela, duas solitárias em uma fila, cheias de nossas verdades absolutas. Meu celular toca, enquanto explicava a uma mulher que o símbolo tatuado no meu tornozelo representava a Santa Trindade. Peço licença e atendo. É uma amiga me avisando que eu havia ganho em uma promoção no twitter, um par de ingressos para aquele show que eu estava esperando a meses. Bendita seja a internet. Compro a blusa. Já que até a Stefhany tem certeza que é absoluta,porque não as minhas certezas fúteis também serem. Saiu da loja. Bolhinhas voam pela Conde da Boa Vista, alí onde pessoas carentes por migalhas de bênçãos, jogam moedas em uma vasilha no chão. E depois de escutar Deus ti abençoe, lá vamos todos nós, esperando as bênçãos da vida. Tanta gente querendo me ensinar a viver e só o que eu desejava naquele momento era ser abençoada, e sair por ai desfrutando a liberdade da revolução feminina, revolução política, francesa, estudantil, industrial... enquanto a verdadeira revolução acontece entre as 4 paredes do meu ser altruísta e ao mesmo tempo despreocupado. Agora toda a minha angústia matinal havia passado e eu tinha nas mãos o poder de conquistar o mundo, armada daquela blusa linda, preta, com o seu enorme decote nas costas, afinal que mulher -boboca ou não- não se sente poderosa e invencível com uma blusa nova?! E fecho com a ligação, que me fez esquecer da minha solidão absoluta.

Ela e aquele amor

Eu sei. Eu sei que é ela que você ama, mas espera amanhecer para o seu pedido de desculpas ser a primeira coisa que ouvirei ao acordar. O sol bate no colar de prata que ela te deu e reflete nos meus olhos e algo pesado passa pela minha garganta e cai direto no meu ventre. E cai novamente. Cai todas as vezes que olho para o seu pescoço. A nossa aliança de compromisso, solitária na minha mão direita, corroe de ciúme da sua que divide espaço com o anel de tucum que ela ti deu, e você insiste em dizer que é amizade. Diz isso pro meu choro calado enquanto você dorme, porque ele não me escuta, quem sabe você. Ou então chora comigo, até não haver mais o que chorar,pra que, quando você tiver bebido além da conta ,não derrame novamente aquelas lágrimas infelizes, enquanto me diz o quanto me ama "TAMBÉM". E ao invés de chorar, dessa vez eu iria rir, rir da minha desgraça, enquanto te dou banho, porque você não se agüenta em pé, e depois de te por na cama. Fechar a porta e ir embora, pra nunca mais voltar.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Eu sempre quis ser isso mesmo


Nunca gostei muito de gatos. São muitos fofinhos e lindos, mas são independentes demais para a minha monofobia. Sem falar que seus pêlos se soltam muito facilmente, o que ataca a minha rinite. Entro no seu quarto. Você me apresenta a Pandora e sorrindo me diz - É a nossa filha-. Eu a pego no colo e ela se derrete toda nos meus braços, com uma naturalidade de quem não tem medo da rejeição que chega a me dar inveja. Não! Os pêlos dela não estão se soltando tanto, e seus olhinhos se fecham enquanto eu acaricio seu pescoço que vai pendendo levemente para o lado. Ela pula do meu colo e vai brincar, voltando vês ou outra para novas doses de cafuné. Lá pelas tantas da madrugada, já meio sonolenta, eu me deito nas suas pernas, encaixando minha cabeça entre seu quadril encostado no canto da cama e o notebook em cima dos seus joelhos. Eu cochilo um pouco enquanto você checa seus emails, mas logo sou desperta por patinhas bebês que sobem pelo meu braço. Abro o canto do olho e ela me olha como quem pede licença. Me viro e deito-a no meu tórax. Ficamos cara a cara, olho no olho. Ela demonstra estar a vontade ao meu lado. Ela me cativará. Faço carinho na sua barriga e ela adormece. Como disse nunca gostei muito de gatos, mas derepente lá estava eu, dividindo meu carinho com aquela criaturinha, que me mostrou que mesmo sendo tão livre, sem cerimônia veio em busca do meu colo, deixando claro que só queria estar ali e pronto, sem nada cobrar. Logo eu que sempre preferi os cachorros, mas apegados e sentimentais. Sempre prontos para dividir o seu dia comigo. Me fazer ver a pureza do mundo no único lugar onde ainda se pode encontrá-la na sua forma mais sublime. Neles. A razão do nosso sorriso após chegar de um dia ruim e estressante de trabalho. Não há festa mais sincera que a deles quando abrimos a porta de casa. Mas então lá estava ela, tão independente, com seu jeito próprio de dar e receber carinho. Antes de dormir de vez, ela da uma última olhada para mim. Traduzo aquele olhar tão familiar. Sou eu mesma. Com essa minha própria forma de dar e receber carinho. Cachorros e gatos costumam não se dar muito bem. Talvez por isso eu tenha relacionamentos tão complicados. Porque sou como esse bichano, que tanto quer ser livre, mas cheia de suas carências e seus medos do mundo. E sempre na busca de um colo canino confiável. Quem sabe um dia eu consiga ser como os cachorros, sem medo de perder o controle de mim mesma e me doar sem nenhum pé atrás. Ou, talvez eu continue sendo sim como os felinos. Mais especificamente como ela. Entregando e pedindo, sempre que desejar, sem medo e sem hora marcada e apenas seguindo meu próprio ritmo. Meu próprio coração. Sempre. E nada mais.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Sangue


Estamos sujas, cansadas e com sede. De novo escolhemos a porta errada. O céu já não esta tão azul, a cor dos olhos já não são tão brilhantes, os poros já não se arrepiam, o velho sangue escorre pela boca novamente enquanto a gente tenta estancar com a mão minúscula de quem ainda não cresceu. Sobe um cheiro de azedo no ar, enquanto tudo acontece muito rápido. E se é pra sangrar que seja no ritmo do meu cd do System Of a Down, que agora toca alto o suficiente pra que eu não consiga ouvir meu peito com suas angustiantes interrogações. Na fila pro show do Jorge Vercilo, caminho como se não estivesse alí, meus passos são ritmados. Involuntariamente entrego o ingresso e logo em seguida uma moça me revista. Abro os braços, e eles dizem como em um último pedido de quem não se importa mais: “Vai! Acaba logo com isso”. A adaga cravada no meu coração passa despercebida por ela. Entro na multidão. Esta tocando a única música que poderia me traduzir naquele momento. Olho para céu e como em um ritual mágico, fecho os olhos, a música entra letra por letra nos meus poros que finalmente se arrepiam, enquanto meus ouvidos abafam todas as vozes ao meu redor. Canto “asas cortadas” com uma força que esses meus pulmões nem sabiam que tinha. Era o meu momento, era só o que importa naquela hora. Queria expulsar a minha angústia por não saber se mereço teu sangue escorrendo por mim. E eu não quero sangue. Mas ele esta lá e eu não posso virar as costas, tenho medo de você ter uma hemorragia. Eu preciso continuar estancando ele com minha mão minúscula, mesmo sabendo que tudo o que consigo compartilhar agora é essa minha solidão. Mas você me olha enquanto eu finjo que durmo e diz baixinho que vai me dar até a última gota do seu sangue. E eu quero soprar com esse ar gelado e seco que agora sai do meu coração, o teu ferimento. Mas sinto tanto sono e isso não vai dar em nada. Você me faz gentilezas e isso me incomoda, porque eu quero que você me ajude a fazer as malas, mas você só faz o café. E eu sinto vontade de me matar por ser tão medíocre. Eu sinto vontade de te odiar e não precisar mais me anular, pra não ver você sofrer. Eu já me perguntei se isso é uma forma torta de amor. E se for? E se eu for embora o que acontece? Como ainda não achei uma resposta, empurro e faço força pra o meu egoísmo caber dentro do meu armário abarrotado, no meio das minhas roupas desarrumadas. Depois vou deitar ao seu lado e espero você adormecer. Saiu então para pegar vento no rosto, e me pergunto "até quando vou fingir que estou dormindo".

terça-feira, 22 de junho de 2010

Fumódromo


Depois de um dia um pouco puxado de trabalho, dou de cara com ele, meu companheiro de aventuras, me esperando na porta, com sua mochila nas costas, voltando do trabalho. "Ti pago uma cerveja, topa?" O meu sorriso exausto diz sim. Sentamos um de frente pro outro e quando nossos olhos se bateram ele me disse. “A tua solidão é a minha preferida sabia?!Porque ela me sorri.Nós precisamos brindar a isso”. “Ok! vamos brindar a todas as solidões que sabem sorrir sem culpa” digo erguendo o copo. E assim a noite começa, sem pretensão de ser mais do que aquela agradável conversa de bar depois do expediente. Comento que uma amiga havia me chamado pra ir à Metrópole, onde iria rolar um evento chamado "noite das divas", mas que não me animei muito pra ir e acabei recusando o convite. Ele me olha, maliciosamente. Da porta da boate ligo para minha amiga, e nada dela atender o cel. Entramos só nós dois. “Lá dentro eu acho ela!”. Estava lotado, o tema da festa era ótimo e a noite prometia. Enfim comecei a me animar. Fomos atrás de combustível. Parei no bar, peguei umas bebidas e fomos dançar. Não estava muito interessada em quem estava ao meu redor, minha solidão continuava me sorrindo. Dancei ate suar e fiquei meio descabelada, como só as mulheres com solidões bem humoradas conseguem ficar. De repente o ar pesou e fomos para a parte aberta da boate, onde costumávamos suar nossos vícios. Sentamos e ao som da MPB vasculhamos ótimos papos, cercados daquela decoração rústica que eu simplesmente adoro. Ela chega sorrateira com as mãos nos bolsos, ar despretensioso, e sua solidão parecia lhe sorrir também. Foi o que deduzi de início. Já a minha, aquela de sorriso exibido, caiu por terra naquele momento, como um cachorro da mudança. Percebo então que ela espera alguém, que no mínimo deve estar tentando um espaço pra se fazer percebida pelo barman coberto pelas cabeças e os seus pedidos. (A sensação de que o barman nunca vai ti ouvir, mesmo você já estando a consideráveis minutos berrando, - como nunca fez nem pela sua cantora preferida-, a cada vez que ele passa perto de você com uma bebida diferente na mão, é aterradora) . “Uma caipiriiiiiinha”. O mundo estava virando do avesso naquele bar.O céu ameaçava desabar e até a lua estava meio torta aquela noite. Mas ela e sua áurea de mistério não. Continuavam lá, sem muita pressa de lugar nenhum. Olhar aparentemente perdido, algumas sardas, bermuda quadriculada, cabelos curtos com um repicado na frente que insistia em cair nos seus olhos e que ela jogava para o lado, um ar alternativo...e sobravam interrogações dentro de mim. De repente tudo o que ela respirava a partir daquele momento era do meu interesse. “Se eu continuar falando aqui sozinho, vou lá, arrasto e sento ela aqui do seu lado”. Diz o meu amigo já aborrecido. Eu o encaro surpresa por alguns segundos e em seguida caiu na gargalhada, ele também. Naquele momento as amigas dela, nitidamente, namoradas ou ficantes, saem e vão para a parte fechada da boate e ela sai junto,logo depois ela volta e vai no bar comprar a sua bebida. Eu acendo outro cigarro e desisto daquela tortura. “Vou no bar”.Aviso. Me levanto, vou até lá,enfrento o congestionamento, compro uma tequila (porque se ela não me der coragem,nada mais nesse mundo dá), e volto. Passo bem ao seu lado e finjo desconhecer a sua existência. Não me pergunte por quê. Pois já que minha intenção era conquistá-la, concordemos que no mínimo eu deveria olhar pra ela. Mas não, não dessa vez, ela era misteriosa demais para eu estragar tudo com um olhar promíscuo de quem quer uma ficada sem compromissos. Eu queria ingerir cada gota de história que corria no seu sangue. E não se bebe o sangue de alguém assim tão facilmente. Cada passo precisava ser milimetricamente estudado, qualquer pisada em falso poderia ser fatal. “Oi, tudo bem?! meu nome é João, qual o seu nome?”, “ Helena”,diz ela meio surpresa. “Gostaria de sentar um pouco aqui com a gente?” -Eu mato ele, eu me recuso a acreditar nisso, eu juro que arranco ate o último suspiro de dor dessa língua enorme e... Viro pra ela e cumprimento ...- “Oi tudo bem?” , “ Tudo e você?”Ela responde com uma voz grave que me arrepia tudo por dentro. “Ótima, bem melhor agora” (bem melhor agora! bem melhor agora ? Puta que pariu, eu precisava mesmo ter dito isso?) Meia hora de conversa e eu já sabia que ela fotografava, mochilava (pra ter mais haver comigo só faltou ser musicista)e tocava percussão [;)].Toco suavemente a sua perna e depois aperto fazendo um pouco de pressão, e como em uma corrente elétrica, naquele momento, sinto passar toda uma energia para dentro do meu corpo que vai se perdendo pelas minhas veias e me molha os sentidos. Resolvemos ir dançar, “ótima idéia,porque caso isso seja efeito do álcool, vai sair pelos meus poros agoooora,e vai voltar pro mesmo lugar de onde veio”. Namoramos.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Não tente



Não queira me fazer feliz, nem tente. Não me procure na sua nova namorada. Não me conte seus segredos. Não queira saber do meu dia sem você. Não finja que não liga, enquanto lê escondida todas as minhas estórias. Elas não são pra você. Elas não são sobre você. Nem essa aqui é pra você. Ela é pra mim. Pro meu ego tranqüilo, por ter virado a página que você escreveu na minha história. E depois me deixou, passeando pelo mundo, para ir passear pelo céu natalino, montada em um trenó qualquer, em busca daquela estrela na calçada da fama. Cata!Cata logo as migalhas que você anda jogando pelo chão, porque eu não vou te seguir. Nem pense. Tira esse sorriso do meio da cara. Ainda gosto de Chico Buarque, porém não escuto mais pregações tortas. Agora eu ando em bares sujos e bebo o sangue das feridas. As porras das feridas, que mesmo você não ligando, nunca cicatrizaram.E talvez foi por isso mesmo. Você me sangrou a alma e unhas afiadas não chegam mais tão perto. Por isso a sua maldita cicatriz, vai ser aquela que sempre estará lá. Mais que nunca mais verei refletida no espelho.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A Estrela pequenina




Menina!Para de esbarrar em mim com o corpo todo suado como se fosse sem querer,todas as vezes que eu passo do lado da quadra espaçosa do teu sorriso. E eu paro de me exibir pra você quando to pulando elástico de frente pro seu campeonato de cartas marcadas. Não me olhe como se eu fosse só a primeira amostra do que a vida te reserva. Quando você ainda nem consegue perceber, que o que a vida te reserva é tudo o que você já sabe e tem medo de ter certeza. E eu paro de te olhar como se tudo o que eu desejo estivesse por ai, ainda a tua procura. Você ainda nem sabe quem é de fato,mas experimenta me pagar um milk-shake com as moedinhas que você economizou durante a semana, só pra me mostrar que você pode ser muito mais. E eu te dou os milhões de retratos teus, que os meus olhos tiram todas as vezes que te vejo,só para te colecionar, caso ao amanhecer você evapore como um sonho bom. Me deixa subir no teu ombro pra que eu possa ficar tão alta, como quando sinto o toque (sem querer) da tua mão na minha, no corrimão da escada depois que bate o intervalo dessa vida miserável e hipócrita. Quando você parar de fingir que não me ama, não sei se trapacear no pêra, uva, maçã e salada mista, sob olhos de um outro mundo, vai me tirar esse medo que também sinto de me perder num caminho escuro e sem garantia de volta, no percurso entre cada estrela que brilha bem no alto do céu da tua boca. Eu quero ver quando essa mão subornada que finge que tapa o teu olho a cada amanhecer, te deixar ver também quando não for eu, pra que assim eu possa perceber que você escolheu negar o afago de outra mulher. E que quando teus olhos se abriram, na tua cama vazia ainda permanecia o meu cheiro, intacto e guardado. Ai sim!Te entregarei os meus sonhos, embrulhados na fitinha azul que prendia o meu cabelo quando te vi pela primeira vez. E nessa noite me leve a um bom restaurante, trajando o teu melhor sorriso. E dance comigo ao som do jazz a meia luz. E quando um blues começar a tocar , perceba o sinal. E me dê de uma vez aquela estrela guardada na caixinha de jóias, que você foi buscar antes mesmo de me reconhecer. Enquanto eu vagava perdida pelas ilusões da vida. E que você guardou até esse momento embaixo do teu travesseiro, enquanto eu limpava o meu ser até ecoar, de todas as promessas não cumpridas que só serviram pra me fazer ver que ainda não era você, e ficando mais uma vez a espera da tua luz que me faria sentir viva.Porque o simples brilho dos olhos,acenderia o cosmos ao nosso redor e calaria toda promessa vã,secaria toda lágrima de decepção e sararia todos os aranhões que sofri, escalando os muros que me impediam de ver o brilho que escapava do teu travesseiro, e atravessava a tua janela, durante todas essas noites, em que você incansavelmente me esperou entrar pela tua porta, com uma rosa na mão.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Não fui eu


Que direito eu tenho de dizer a alguém “Não seja tão caricato.Sim, seja menos criança.Pára de bobeira.Não limpa a mão na roupa. Não faça brincadeiras com as pessoas como se tivesse perdido a sua infância(antes de ao menos saber que a tinha)em algum lugar e nunca mais a encontrou. Não fale como se todo o seu senso de firmeza e seriedade, estivesse derretido como esse sorvete que escorre pelas tuas mãos. Seja ranzinza, estressado, frustrado e desesperado para se tornar alguém realizado antes dos 40. E não me olhe como se eu fosse feia, chata e estraga prazeres. Eu somente, já aprendi a ser infeliz.”

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Pra decência não me ver



O dia amanheceu e eu aqui, sentada na minha cama, extática e nostálgica, no último trago do cigarro adormecido - funciona melhor que qualquer terapia!- Essa minha vontade súbita de escrever, nada mais é que um desejo agressivo e sentimental de despir minha alma desprevenida e receosa, cheia de sentimentos “Amélipoanos”, todos eles, e com uma pitada de descaramento.De egoísmo, desse meu jeito de Alice sonhadora.Surreal e masoquista de coração.A vontade, ou melhor, a necessidade de um arrepio na espinha,e ser tomada ate as pernas estarem trêmulas num delírio de prazer digno da literatura Barroca.Essa alma que sente demais,transbordante,viciada em sentir,com suas overdoses de amor tão particulares.Esse corpo pedindo sossego num prazer ardente.Agora, cá com esses meus sonhos despidos e sujos jogados em cima da minha cama,aguardando o momento mulher racional e decidida.Respiro todo o cinza ao meu redor,enquanto acendo outro cigarro,adequadamente pronta para a ocasião.Minha cara lavada,rabo-de-cavalo, a camisa tamanho único que ganhei da última campanha política da minha amiga DJ, e por fim ,minha melhor calcinha.Sento no chão e penso: “odeio ser tão gótica”.E de tragada em tragada, sem as certezas que me fazem falta, como o filho que ainda não tive,olho minuciosamente cada parte do que o intestino da minha alma sem sono vomitou sobre o meu cobertor lilás.Me pergunto se jogo tudo isso pra debaixo do meu tapete macio ao lado da cama,-Afinal é pra isso que eles servem,esconder o podre do meu estômago, o que é sujo e indecente-.E assim,troco os lençóis,deito e durmo? Ou procuro aquele whisky cansado e guardado e depois de suficientes goles me jogo por cima de toda essa bagunça e adormeço como uma menininha perdida?Limpo obcecadamente como um colecionador cuidadoso cada minúcia de sonho, projetos e sentimentos vomitados, com uma flanela 100% algodão.Me culpo por cada um deles,enquanto os reorganizo na prateleira do meu ser e os deixo livres para fazerem poeira, e de tempos em tempos atacar minha rinite depressiva? Eu peneiro tudo e como uma boa mestre cuca, faço uma receita magnífica com os melhores ingredientes, seguindo o meu coração?Esse mesmo que me permite errar e chorar, e correr esse risco. Ou eu simplesmente escuto uma segunda opinião?Bom!E assim sem resposta, eu chego na última tragada do último cigarro da minha caixinha metálica da Marlboro.Eu cá,os sonhos lá!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O Ônibus e o Radio

No Radio, a musica me avisa - a juventude “nada mais é” que uma banda, numa propaganda de refrigerantes-. Enquanto isso do outro lado da rua, em uma esquina movimentada, alguém se preocupa com a minha salvação. A moça de pele bonita passeia com seu cão de raça, que faz seu coco com pedigree na calçada. A mesma que serve de cama para acalentar sonhos cansados, sujos e descalços num cobertor rasgado, daqueles que a esperança já abandonou há muito tempo, desistiu. Mas que mesmo assim levantam todas as manhas em busca de mais um dia. Em pé no corredor, a degradação social leva alguém a falar sobre suas mazelas à aquelas pessoas divididas em ilhas, sentadas em poltronas, cada um no seu mundo particular visto pelas mesmas janelas. Alguém ouve música e bate o pé ritmicamente feliz atrás de mim. Enquanto a paisagem entra por um olho e sai pelo outro, o casal de turista da poltrona da frente analisa a arquitetura contemporânea. Mas alguém que não esta no seu universo particular, nem ouve música ou compara cidades, tira algumas moedas do bolso e aquele homem desce na parada seguinte com o jantar garantido. Não tinha percebido ainda aquela loja vintage que abriu do outro lado da rua. Como é o nome mesmo?! -Penso se desço- e é quando Marina Lima me diz ao pé do ouvido: “mesmo que seja eu”, e então eu fico analisando o que ela acha de ser o homem de alguém!Essa canção me faz lembrar a mulher que é tão poderosamente mulher a ponto de ser dela mesma. Afinal eu não sei por que ser o homem de alguém.Na maioria das vezes, prefiro ser a mulher de alguém, mesmo que esse alguém “seja eu”.O Senhor aparentemente na casa dos 40, com uma pasta de (aparentemente) couro na mão sentado ao meu lado,olha concentradamente agora para o que eu escrevo.Engraçado,eles sempre desviam disfarçadamente o olhar para a frente,mas 10 minutos depois, no Maximo,voltam a dar olhadas de leve,podendo jurar que não estão sendo percebidos.Porque alguém escrevendo ao seu lado é digno de tanta curiosidade? Alguém uma vez riu e perguntou: “é uma musica?” Fiz um bom amigo.Espero que ele tenha passado naquela entrevista, tava nervoso. Volto a pensar na minha própria respiração e nos mistérios da astrologia, perdendo os olhos entre os carros, ouvindo o inicio do Mariano que alguém uma vez me cantou. Simplesmente!

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Inventa



Ei você,quer saber
Inventa uma cidade
Escreve um livro
E conta aquele conto
Mas não enrola, nem complica
Sem pudor,conta ate aquelas loucuras
E se ti fizer corar..SORRI!
Mas num esquece de falar também dessa tua vida
Teus medos,anseios,teu pão de cada dia.
Novos traumas,os antigos eu já conheço de cór.
Tuas desilusões
Divide comigo
Assim informal
Assim camuflado
Assim escrachado nas paginas do teu livro
Mesmo só por vaidade
Ou por ainda vontade de se abrir
Ou então não fala nada
E eu não olho para trás
Seguirei na minha estrada
Sem saber mais sobre você
Como velhos desconhecidos...
Que em algum momento se reconheceram.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A loira do iPod




Parou de frente,
Cabelos cuidados, respirando seu próprio mundo,
Óculos de grife, unhas bem feitas,
Pegou seu i Pod ultima geração,
Roçou o seu braço no meu ombro,
Despudoradamente,por ininterruptos 15 minutos,
A cadeira atrás da minha esvaziou, ela sentou,
Sem ao menos um tchau civilizado, depois de tamanha intimidade!
Me senti usada.

sábado, 8 de maio de 2010

Sabor Morango



Eu odeio qualquer biscoito com recheio de morango.Isso vem desde a infância, na ponta do pé,checando a lancheirinha em cima da mesa antes de sair de casa, pra me certificar que o chocolate estará lá.Aliás, pra ser mais RADICAL (coisa que adoro ser as vezes)eu odeio qualquer biscoito com recheio que não seja chocolate,afinal preciso honrar as saias que visto,não?Mas de repente, ali estou eu, com 22 anos na fuça, parada diante da prateleira de biscoitos do supermercado,analisando o porquê eu sempre, mas sempre mesmo, levo somente biscoito sabor chocolate para casa, tendo tanta variedade ao meu redor em uma única sessão.E me sinto um ser limitado por frações de segundos e depois penso “que se dane a Guerra,o governo do Lula,a paz do Oriente Médio,o Efeito Estufa,o novo clipe da Lily Allen,a Copa.Só o que me interessa agora é comer...”Mas ai, analiso por outro aspecto,o de que eu como tanto chocolate,todo o tempo, que uma hora vou acabar enjoando,já que engordar, não vou mesmo..por uma razão genética.Mas a fatídica e dolorosa verdade é que sou tão dependente dele que se enjoá-lo um dia o que será de mim??Quem vai acalentar meu coração em noites chuvosas?Quem vai me fazer esquecer aquele toco?Quem vai me aliviar a dor da desilusão?Quem vai ser o meu porto-seguro infalível nos frios e melancólicos invernos?Quem vai ser meu companheiro quando eu tiver chata de dar dó?Quem, quem?? E é consumida por essa duvida cruel que começa a pairar sobre minha cuca desocupada, que decido pela tortinha de morango.E o chocolate?Bom,amo com todas as minhas compulsivas forças femininas essa despretensiosa invençãozinha do mal,pra correr o risco de viver sem ela.Por isso antes que uma catástrofe aconteça, não resta dúvida.Hoje,morango,chegou a sua vez.
Vamos la, o primeiro biscoitinho do pacote.Ta vendo, nem é tão ruim assim,e ate docinho, gostinho bom de morango...Tudo bem que eu não saiba o porque ele ser tão mais doce que o morango original,mas quem se importa,é delicioso!!E o segundo, só chega pra confirmar essa conclusão.Já estou no terceiro e nem sequer sinto remorso de não ter escolhido o chocolate.Mesmo sabendo que ele ao contrario dessa diabete ambulante em forma de recheio,é doce na medida certa,suculento e derrete divinamente na boca e ao invés da sensação de ânsia de vômito e o medo do ataque iminente de formigas impiedosas e sanguinárias,ele provoca uma sensação de alívio e bem estar,a felicidade imediata que acalenta o mais deprimido coração feminino.
Bom, queridos, necessito pedir encarecidamente aos presentes,que me dêem licença porque vou ali na cozinha,procurar sútil e controladamente alguma substância (qualquer uma,qualquer coisa,não precisa nem ser de comer!) basta que seja a base de cacau, não por nada não,"magina",somente pra que eu possa retomar o significado da minha vida,besteira,coisa boba.Ha!claro,e também jamais voltar a ir contra os meus princípios,e principalmente contra o meu coração chocólatra.
Bom!Depois de ter jogado dinheiro descarga abaixo ao comprar meu passaporte pra uma diabete na pior das hipóteses e caganeira na melhor delas.Só o que resta a essa alma sofredora“ Pelo amor de Deus!É um armário,uma lata escondida no fundo da geladeira atrás da vasilha de verduras,ou uma caixa naquele cantinho no fundo do guarda-roupa!”
“qualquer chocolate serve, até vencido.”