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domingo, 4 de julho de 2010

Entre bolinhas, br’s e todos os tipos de certeza

"Textinho de fim de Domingo. Espero que gostem"


O rádio do vizinho me desperta meio atônita. Enquanto centralizo o universo ainda desfocado nos meus olhos fechados, Rita Lee canta “Meu doce vampiro” e eu acordo com gosto de sangue na boca. Eu poderia muito bem comprar uma Harley Davidson e sair pelas br’s "the guevareando" com uma mochila nas costas abarrotada das minhas certezas. Com os cabelos soltos,a alma solta e principalmente com o coração livre leve e solto. Mas a minha bola de chumbo de estimação pende para fora da minha cama, esticando a corrente e me fazendo lembrar quem é que manda. Decido então ir bater perna no centro da cidade. Ela me olha e meu coração treme, não consigo sair do lugar. Ela é minha e eu sou dela, e esse certeza que magicamente nos envolve naquele momento me puxa para dentro da loja. -Ela é perfeita e eu vou levá-la-. Pego, e sem provar me dirijo ao caixa, antes que a fatídica realidade do valor daquela blusa, me cause a angústia típica de quem vai fazer o último ato de compulsividade com o seu cartão de crédito quase estourado... Entro na fila. “Você deveria ter menos verdades absolutas na sua vida, são elas que te impedem de crescer” diz a garota para a namorada á minha frente. Ela olha para o lado e suspira. E naquele momento aquilo me atinge como um soco no estômago. Atinge todas as minhas verdades absolutas, uma a uma. Ela sai da fila e a namorada fica lá, sozinha, convencendo a si mesma de que não se importava. E lá estávamos eu e ela, duas solitárias em uma fila, cheias de nossas verdades absolutas. Meu celular toca, enquanto explicava a uma mulher que o símbolo tatuado no meu tornozelo representava a Santa Trindade. Peço licença e atendo. É uma amiga me avisando que eu havia ganho em uma promoção no twitter, um par de ingressos para aquele show que eu estava esperando a meses. Bendita seja a internet. Compro a blusa. Já que até a Stefhany tem certeza que é absoluta,porque não as minhas certezas fúteis também serem. Saiu da loja. Bolhinhas voam pela Conde da Boa Vista, alí onde pessoas carentes por migalhas de bênçãos, jogam moedas em uma vasilha no chão. E depois de escutar Deus ti abençoe, lá vamos todos nós, esperando as bênçãos da vida. Tanta gente querendo me ensinar a viver e só o que eu desejava naquele momento era ser abençoada, e sair por ai desfrutando a liberdade da revolução feminina, revolução política, francesa, estudantil, industrial... enquanto a verdadeira revolução acontece entre as 4 paredes do meu ser altruísta e ao mesmo tempo despreocupado. Agora toda a minha angústia matinal havia passado e eu tinha nas mãos o poder de conquistar o mundo, armada daquela blusa linda, preta, com o seu enorme decote nas costas, afinal que mulher -boboca ou não- não se sente poderosa e invencível com uma blusa nova?! E fecho com a ligação, que me fez esquecer da minha solidão absoluta.

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