sábado, 18 de setembro de 2010
A última placa cortante
As lojas fecham, a noite cai... O dia começou colorido e terminou acinzentado. Lágrimas de sangue pisado e coração pisado, e uma ligação voa. Um estrondo e já é muito tarde para comprar cigarro. Me agarro a uma lembrança boa, me agarro a um copo de cerveja, em tudo o que não existe e em mais nada. E se esse texto ficar ruim, a minha noite vai ficar pior, porque nem nele vou poder me agarrar. Estou no nono andar e me sinto sem o chão. Nem a lua consigo ver da janela, provavelmente ela deve ter tido mais o que fazer. O moço do quiosque do outro lado da avenida, deve estar vendo filme agora com os pés inchados em cima da poltrona, e meu sangue quente deu meia volta de mãos abanando. Não tem cigarro, não tem quiosque, nem bêbados fora da idade de estarem bêbados batendo ponto. Tem somente o canto do sofá da sala do meu amigo e uma Black Music tocando no notebook que ilumina a sala. Quero dançar em uma boate, cheia de rancor e vontade de não estar em lugar nenhum. Eu não pedi nada, mas você bateu a cabeça no fundo, e algo ficou roxo entre meu coração e a alma. Cercada de quadros antigos, estante de livros, de filmes de arte e um vento frio entrando pela janela do nono andar, passando pelos dois e chegando a mim. Lembro que quero te devolver o livro que você me emprestou, da menina que fugia da morte enquanto roubava livros, não sei mais nada sobre ela. Fugir da vida é bem mais louco e irreal, por isso ainda acho que ela estava no lucro. Mas preciso devolvê-lo talvez sem aprender a fugir de livros, nem roubar a morte, que a essa altura já deve ter dado meia volta ao ver a placa de um endereço temporariamente desativado. Atravesso a rua com o martelo e os pregos que sobraram em minhas mãos. Cansei de cartazes, cansei, esse é o último aviso. Sento na beira da praia, o vento corta, o frio corta, a noite corta, mas porque só o que sai da tua intimidade cortante me dói?
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2 comentários:
don't stop!
... believe?
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