sábado, 25 de junho de 2011
Tudo que não esquenta
A falta escancarada é no mínimo estranha. Não o amor em sí, nem o fato de não amar uma pessoa específica. Amo e valorizo tudo o que passei e amo cada parte da minha história, mas o fato aqui é de não estar apaixonada por ninguém. Coração vazio é a oficina do diabo, então com a autorização do dono, senta ai, afasta os cacarecos e vamos tomar um chopp . Isso poderia significar coração tranqüilo, mas é então que um defeito geneticamente feminino chamado estado de hiper afetividade, ataca todos os meus poros e veias, é como se eu estivesse meio surtada e oca. Eu deveria mesmo era estar cagando pra tudo isso, afinal tantos cotovelos latejando pelo mundo afora, tantos nãos, tantas decepções, medos, ciúmes, inseguranças. Eu deveria acender uma vela e relaxar no sofá, livre de cada gosto azedo de medo entre um sorriso apaixonado e outro. E eu descubro que eu estou realmente cagando pra tudo isso, mas é pra tudo isso que é morno, que não ferve, não pulsa, não respira, nem se nota. To cagando pra tudo que não faz o sangue ferver, o coração ferver, com troca de olhares profundos que interfere por um momento no bom funcionamento dos seus pulmões dificultando a passagem do ar, aqueles palavras tão desejadas que são faladas quando você menos espera, novidades e descobertas a cada reencontro, beijos ardentes após uma briga, aquele telefonema tão aguardado que ainda consegue te pegar de surpresa, um simples telefonema inesperado é uma afronta ao aquecimento global. Quando eu era criança e algo dentro do meu estômago não estava muito bem, minha avó me dava água morna para eu vomitar o que estivesse me fazendo mal. Agora entendo porque o morno embrulha o estômago. Depois de faxinar desilusões, arrependimentos, frustrações, eu sinto agora esse morno, estou perdida nesse meu autocontrole. Quero sim soluçar e desmoronar ao som daquela canção que parece ser feita por encomenda, quero perder esse autocontrole excessivo, e depois reclamar que estou vulnerável, mas ai logo em seguida por a mão no rosto fingindo que estou preocupada para poder sorrir, feliz sem que ninguém perceba que é na verdade porque eu estou lembrando de alguém que é importante o suficiente para me fazer sorrir boba pro mundo, pro muro, pro poste,pro nada, pro velho na esquina comprando seu jornal pela manhã enquanto eu ando pela rua com roupa de noite, um resto de maquiagem tímida e um pensamento longe. Quero surpresas, gargalhadas, choros, compras no supermercado, dividir o cantinho apertado do sofá mesmo quando todo o resto esta desocupado, quero um bom dia, dividir um sorriso, café da manhã e tudo o que a vida tiver pra me aquecer. Menos que isso não basta. Meu estômago dói, mais eu prefiro, não quero mas ter que continuar vomitando um meio termo pra essa vida.
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