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segunda-feira, 5 de julho de 2010

Me segura vai


Eu olhava para a colher com aquele remédio amargo e criava forças para colocá-lo na minha boca. O ruim de ser adulto é porque você mesmo tem que colocar a colher na boca. Era tão mais fácil quando eu era criança e alguém me segurava enquanto minha mãe abria minha boca e empurrava goela abaixo. As vezes eu queria que alguém me segurasse, abrisse minha boca e socasse tudo que não entendo desse mundo goela abaixo e pronto. Seria tão mais simples. As vezes eu queria que tudo o que eu não sei sobre a vida me fosse enfiado goela baixo. Dói mastigar o mundo devagar.As vezes brilha,mas é apenas vidro mesmo, e sangra.Cansei de sangrar,quero o mundo goela abaixo. Talvez assim o meu talento para entortar corações, incluindo o meu, diminuísse um pouco. Mas você sim, você me dava tudo na boca, você me dava seu amor, sua dedicação, suas tentativas infinitas de paciência, suas respostas tortas fatigadas, suas implicâncias já tão íntimas, suas imposições, sua impulsividade, seus gritos no meu sono, sua dor calada, seus bloqueios, aqueles que eu tirei e aqueles que surgiram por minha causa. Você me enfiou tudo goela abaixo e eu fiquei tão abarrotada de você, que de tão pesada eu nem saia mais de casa, nem do espaço cercado do meu coração. Já não tinha mais espaço para os meus dramas, dores e soluços, porque tudo era sugado por você, te deixando pesar do pior que eu poderia oferecer. Eu queria ser melhor, melhor pra você, melhor pra mim, mas eu não consigo nem ser melhor pro nosso cachorro, aquele mesmo que nem chegamos a ter. Então na falta do cachorro pra me olhar agora com desprezo e decepção, eu mesma me olho, eu mesma me renego, lato, gritando pra dentro do meu ser, como somente seres de alma pura como os cachorros conseguem fazer. Eu agora imito, como quem diz –você não vai fazer nada?- com o olhar que beira entre a ira e o pedido de misericórdia, porque o cachorrinho pidão que vive em de mim, te quer de volta e até meu egoismo te quer de volta. E só por isso ele,assim tão canino, me da uma trégua e se deita aos meus pés agora, esperando que você surja e me pergunte se eu quero chá. Eu não sei ser adulta e eu não sei te chamar de volta. Por isso arromba a porta, se enfia goela abaixo e arranca de uma vez esse nó que se instalou na minha garganta. É tudo o que eu te peço.

7 comentários:

Anônimo disse...

Simplesmente AMEI o texto.
Parabéns!!

bjss

Títi disse...

honey! amei o texto!! quer casar comigo? hahahahah a louca! bjos

Sinuca-breja-bossa disse...

J.e.L: que bom, fico feliz, volte mais vezes.Bju ;)

Titi:Tendo casa, comida e roupa lavada, a gente conversa!!!...eheh...(Brincando viu)Obrigada pelo elogio.

Daniella Silveira disse...

Muito interessante!! Parabéns. ;)

Juliana Ladeira disse...

Primeiramente, obrigada pela visita! Fico feliz que tenha gostado. O seu blog eu já favoritei e já estou seguindo, vou lê-lo jájá. Quanto ao encontro literário... TÔ DENTRO!

Beijossss,
Juliana Ladeira - do blog
Beijos que não Furam

Sinuca-breja-bossa disse...

Daniella: Obrigada ;)

Juliana Ladeira: Que bom, ;).Ta ok então,vai ser bem bacana. Bju

Anônimo disse...

OLá...

Vim aki retribuir a sua visita.
Mas acabei dando uma olhadinha por aqui, e...
Puxa menina, vc escreve muito bem !
Parabéns !!!!
Beijos


http://psycholes.blogspot.com/