sexta-feira, 2 de julho de 2010
Eu sempre quis ser isso mesmo
Nunca gostei muito de gatos. São muitos fofinhos e lindos, mas são independentes demais para a minha monofobia. Sem falar que seus pêlos se soltam muito facilmente, o que ataca a minha rinite. Entro no seu quarto. Você me apresenta a Pandora e sorrindo me diz - É a nossa filha-. Eu a pego no colo e ela se derrete toda nos meus braços, com uma naturalidade de quem não tem medo da rejeição que chega a me dar inveja. Não! Os pêlos dela não estão se soltando tanto, e seus olhinhos se fecham enquanto eu acaricio seu pescoço que vai pendendo levemente para o lado. Ela pula do meu colo e vai brincar, voltando vês ou outra para novas doses de cafuné. Lá pelas tantas da madrugada, já meio sonolenta, eu me deito nas suas pernas, encaixando minha cabeça entre seu quadril encostado no canto da cama e o notebook em cima dos seus joelhos. Eu cochilo um pouco enquanto você checa seus emails, mas logo sou desperta por patinhas bebês que sobem pelo meu braço. Abro o canto do olho e ela me olha como quem pede licença. Me viro e deito-a no meu tórax. Ficamos cara a cara, olho no olho. Ela demonstra estar a vontade ao meu lado. Ela me cativará. Faço carinho na sua barriga e ela adormece. Como disse nunca gostei muito de gatos, mas derepente lá estava eu, dividindo meu carinho com aquela criaturinha, que me mostrou que mesmo sendo tão livre, sem cerimônia veio em busca do meu colo, deixando claro que só queria estar ali e pronto, sem nada cobrar. Logo eu que sempre preferi os cachorros, mas apegados e sentimentais. Sempre prontos para dividir o seu dia comigo. Me fazer ver a pureza do mundo no único lugar onde ainda se pode encontrá-la na sua forma mais sublime. Neles. A razão do nosso sorriso após chegar de um dia ruim e estressante de trabalho. Não há festa mais sincera que a deles quando abrimos a porta de casa. Mas então lá estava ela, tão independente, com seu jeito próprio de dar e receber carinho. Antes de dormir de vez, ela da uma última olhada para mim. Traduzo aquele olhar tão familiar. Sou eu mesma. Com essa minha própria forma de dar e receber carinho. Cachorros e gatos costumam não se dar muito bem. Talvez por isso eu tenha relacionamentos tão complicados. Porque sou como esse bichano, que tanto quer ser livre, mas cheia de suas carências e seus medos do mundo. E sempre na busca de um colo canino confiável. Quem sabe um dia eu consiga ser como os cachorros, sem medo de perder o controle de mim mesma e me doar sem nenhum pé atrás. Ou, talvez eu continue sendo sim como os felinos. Mais especificamente como ela. Entregando e pedindo, sempre que desejar, sem medo e sem hora marcada e apenas seguindo meu próprio ritmo. Meu próprio coração. Sempre. E nada mais.
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Um comentário:
Como se o meu colo fosse o teu abrigo, deixei que o seu corpo me caísse e se encaixasse como se fossemos perfeitamente encaixáveis!
Alguns toques e uns sussurros. Se houvesse mais alguém aqui, não perceberia. Se algo fosse acrescentado nesse espaço, me seria totalmente fútil. Bastava sentir a tua pele quente e tremendo de frio sobre mim.
O parodoxo sempre me atraiu. Os contrastes iluminam muito melhor que os degradês monocromáticos.
Ver o teu sorriso e te imaginar sem medos, sentir o teu cheiro e - de repente - perceber que o teu carinho não era só meu.
Eu quis ser aquele ser menor que me mordia o nariz. Quis ser aquela que arrancava os teus sorrisos sem esforço, que te deixava imóvel só pra n fazê-la acordar. Queria ter os teus cafunés pra dormir e a tua massagem pra me fazer relaxar o dia cansativo longe de você.
É... por um momento tive dúvida entre sê-la ou ser-me - aquele colinho modesto mesmo. Quis ser mais. Quis ser o teu palácio de 2 quartos, com varandinha, 2 banheiros, uma cozinha aconchegante e uma área de serviço pra quebrarmos uma possível rotina do nosso amor mais gostoso e selvagem.
Quis ser aquele jardinzinho que arranca o teu olhar admirado ou aquela florzinha que te sorri enquanto você busca uma forma de deixá-la ainda mais violeta. Não importa se seria um conjunto de pétalas, queria mesmo era continuar sendo o teu leito de conforto, de carinho, de descanso e de aconchego por todo o tempo em que o sol ainda tiver inveja do nosso mais "estranho" amor.
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