Páginas

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Entre um salto e um all-star



O dia mal começa e ela já está na terceira chamada do meu cel. Daqui a 2 horas eu tenho que levantar para trabalhar, mas quem se importa? Ela? "São 5 da manhã caramba, vai dormir, não tenho tempo agora para sua ressaca moral. Dá um tempo vai!" Mas, pior do que a ressaca moral dela é a minha ressaca teatral. Acho que esqueci de voltar ao meu eu ontem à noite antes de dormir. Acordei, talvez, ainda dentro desse personagem medíocre de mal amada conformada, não sei bem. Meu cabelo cheira a vodka e meu orgulho dói. Será que uma aspirina resolve? Enquanto me dirijo a cozinha, os flashs da noite anterior vão se desenrolando feito filme de terror. Esquece a aspirina, eu quero um anestésico! Preciso não lembrar que fui até o meio do fundo do poço essa noite. Não que eu tivesse orgulho suficiente para não me deixar cair tão fundo. Mas é que a aquela altura do campeonato, depois de um copo quebrado na mesa e ceninhas patéticas de ciúmes de ambas as partes, eu já não sabia nem dizer mais pra que lado ficava o fundo. Ela pisou e chicoteou o resto de orgulho que me sobrou depois dela. Ela esfregou três mulheres diferentes na minha cara lavada e passada, com uma arrogância tamanha, enquanto eu ali sentada na mesa no canto da boate assistia tudo, de frente para todo o circo e com um masoquismo de dar inveja. -Nem vem, nem chega perto.- Tá! Agora resolve chorar, agora chega de mansinho, pede licença, me puxa pelo braço, cheia da razão que me roubou. Mas depois de tudo isso, não entro mais no teu vale movediço, não mais, nunca mais. E mesmo que eu quisesse sacrificar as sobras do meu orgulho, você não deixou o suficiente para isso essa noite. Hoje foi a última gota, aquela quase seca. Vou agora me afogar no porre que acabou de me sorrir pela terceira vez do meio da pista. Ela não usa all-star. Ela esta de salto e acredite, pretendo fazê-la descer divinamente. Já que me recuso a descer catastroficamente do meu, diante de tuas provocações. No susto, me viro, meus olhos enxergam faíscas e vêem pela fechadura o nada em que você me transformou. Te vejo agora aqui na minha frente, na forma de um mosaico mal montado, com esse copo vazio na mão. E por alguns traços teus que ainda consigo ver, não te falo e te faço enxergar o nada que acabaste de se transformar para mim. Simplesmente te pego pela mão, ao final de tua cena e te ponho em um taxi. Tropeço em um salto jogado no chão, que não me pertence. Não adianta me ligar, vou voltar pra cama, pois ela está quentinha e o dia amanheceu frio hoje. Tomamos um banho e ela lavou a vodka que você derramou em seu rosto, enquanto eu lavei você, derramada em meus pulmões. Enfim o ar esta leve.

3 comentários:

Títi disse...

nem sei o que dizer, texto divido, sei lá vi tudo... tudinho...

IyaMoura disse...

Gentedocéu! Eu praticamente senti o cheiro da Vodka... Que noite em.... ;*

Rafa R. disse...

Oláaa
Gostei do seu cantinho =p
Sinta-se bem vinda ao nosso também ^^
Beijãoo