Páginas

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Aquele vento no litoral

(foto-autor desconhecido)

Quando a música tocou a primeira vez eu te amava. Você ia para longe de mim, e ela fez todo o sentido com todos os clichês que existem em um coração apaixonado. E o medo de um dia te perder, me fez chorar cada letra que já era nossa. E eu sorri a tua presença.
Quando a música tocou a segunda vez, você já estava longe. Aquela distância foi talvez a melhor parte do nosso amor. A mais segura. A parte em que dormíamos com a certeza uma da outra. Em que éramos só uma voz ao telefone todas as infinitas madrugadas. E eu chorei a tua ausência em todas elas. E eu esperava.
Quando a música tocou a terceira vez, tudo era onda violenta no mar, uma ampulheta desregulada. Tudo sangrava, tudo chovia, tudo era um vento forte em uma eterna tarde a beira mar. O nosso sonho já não era nosso, era alguma coisa inventada que já não nos pertencia. Estragamos cada canto,cada fresta, cada cômodo do nosso apartamento com todas as nossas palavras cortantes, enquanto as estrofes se desprendiam uma a uma. E eu? Eu me procurava.
Quando a música tocou novamente, perdi as contas. Você não era mais meu sono bom. Você agora era a minha embriaguês. Não sei por onde você andava, quando não estava na minha insônia. Mais sei que a tal canção estava em cada gole, no cheiro do álcool, no peso do gelo, no fundo onde te encontrava e fingia não te procurar. Eu chorei a sua ausência, eu chorei a nossa ausência, em cada palavra, e mesmo o mar me dizendo que a vida continua - Eu morria!-
Quando a música tocou foi agora a pouco, eu estava no banho. Eu não te via mais no reflexo do box, não cheirava mais a você a minha toalha, e pela primeira vez eu não tive medo de escutá-la até o fim. Não era mais dor, era alguma coisa com um nome novo, era outra vez alguma coisa boa, uma vontade de me cuidar, uma vontade que você estivesse bem. O coração desprendeu, e eu sorri de leve enquanto lavava os cabelos. Sorri não querer mais chorar ao ouvi-la, sorri não cheirar mais a lágrimas secas o meu travesseiro. E lembrei! O plano era ficarmos bem.

6 comentários:

Anônimo disse...

Nossa Bruna, mais uma vez PERFEITO!! Sem palavras <3

Bruna Rafaela disse...

adorei o post; se quiser dá uma olhada no meu blog http://brunarafaelaworld.blogspot.com/ @brunarafaelam beijos e obrigada

Títi disse...

arrasou! como sempre néan?! mto lindo!

Dan Rietchün disse...

Quando o vento bater no rosto e parecer só afagar a tua solidão, disfarça. Ele apenas estará traduzindo que nunca estarás plenamente só. Há alguém te esperando em algum lugar. Quem sabe no meio da fumaça, assim com um esbarro casual, vcs n se olhem, se tokem e se reconheçam pela primeira ou mais uma vez.

Perfeito o texto. O melhor de vc é ser catártica sempre. Decerto, até esboçando silêncio.

Parabéns.

Pela Fresta disse...

Caraca, perfeito! E como bate com o momento que vivo agora com a minha ex.
Até confidente sobre a atual já tô virando! kkkkk
Amei!
Parabéns!

Sinuca-breja-bossa disse...

Dani: Obrigada lindaaa!!
Bruna Rafaela: Obrigada.Podexa, vou olhar sim!
Titi: Obrigada, idem pra vc tá!
Anjo Azul: É, escrever purifica =)
Renata J.: As mulheres sempre se compreendem né amiga! ;)