Vem logo. Chega perto. Hoje é você que eu quero, é o teu dia. Hoje eu te permito ir a forra. Entra sem pedir licença. Compra a minha briga. Me faz um convite - daqueles bem cafajestes - pra subir, e me surpreenda com nossas afinidades inventadas. Me conte todas as histórias de carochinha do teu acervo e me faz sorrir. Me traia e não me conte, hoje eu quero a desculpa mais lavada que tiver. Não quero teu amor eterno, quero provar as tuas artimanhas. Não me coloque pra dormir, nem me abrace, hoje eu quero sentir frio. Não meu bem, não fale com jeitinho, você já me tem na sua cama. Me provoque, me sufoque, me engane. Quero sentir as garras afiadas da vida bem no meio das minhas costas. Quero aprender com cada arranhão. Quero renovar as minhas forças e sugar as tuas. Se algumas lágrimas pedirem passagem, não se preocupe, elas não são pra você.Ops! Não me olhe profundamente depois do sexo, siga meu conselho, vire pro lado e acenda um cigarro. Troque o meu nome na hora H, vá em frente, não quero juras de amor. Só por hoje não quero que me prenda.
Por isso,cuidado,não se apaixone,nem tente me fazer.
Hoje não quero nada que doa.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
sábado, 24 de julho de 2010
Noite passada (tentando ser lírica no dia14/07/07)
Textinho antigo(não é muito bom não...mas é o melhor que da pra postar hoje =D)Espero que gostem...
Ontem eu não era uma boa companhia. Atordoada em uma crise súbita de existência. Dediquei-me ao vicio tóxico da fidelidade. Fidelidade aos meus sentimentos, ao meu eu lírico. Sem nada esquecer, essa claramente não foi uma das noites em que trai a solidão. Depois de privar os meus amigos da minha presença de espírito. Mesmo em meio a diversas tentativas frustradas
De me fazerem participar das conversas e risos que rolavam naquela mesa. Eu continuava insistindo a me esconder dentro de mim, tanto quanto a muito tempo eu não fazia. Ainda com alguns flashes na lembrança de
momentos, palavras, pessoas e idéias que trouxe na mente, do
Teatro e que me acompanharam e povoaram ainda por uns momentos a minha mente. Depois tentei não levar o desprazer da minha nostalgia a aquelas pessoas que ali estavam comigo. Dei alguns sorrisos amarelos e ate me atrevi a cantarolar com a Sam: alguma coisa de “construção” se me lembro bem. Quando então cheguei em casa
Me desapeguei de todos os panos que já sufocavam o meu corpo. E encarei seria e introspectiva a quem aquele espelho refletia,na tentativa de descobrir em que parte de mim me desprendi. Quem sabe encontrar uma resposta muda
Dentro de um olhar já intimo. Enfim não obtive nenhum avanço. Me restou apenas tentar me transportar a algum lugar onde a história não fosse minha, as dores, os traumas, os medos, estivessem expostos em outra moldura. Na qual eu pudesse me dar ao luxo de fazer apenas uma análise fria dos sentimentos alheios.E então fui procurar um livro,encontrei em meio as tralhas que guardo, a “poesia errante de Carlos Drummond de Andrade”
e quando me deparei com:
"PASÁRGADA,O SOFA DESSE APART,RECADO AO POETA E PROCURANDO UMA ALEGRIA"
Veio pela primeira vez uma coisa a ficar clara na minha mente. -Só entenderá o poeta aquele que sofrer-, e então como num passe de mágica a poesia inexplicável se torna clara. A partir dali, só por aquele momento deixei de lado a minha existência e mergulhei no coração do poeta noite adentro.
Ontem eu não era uma boa companhia. Atordoada em uma crise súbita de existência. Dediquei-me ao vicio tóxico da fidelidade. Fidelidade aos meus sentimentos, ao meu eu lírico. Sem nada esquecer, essa claramente não foi uma das noites em que trai a solidão. Depois de privar os meus amigos da minha presença de espírito. Mesmo em meio a diversas tentativas frustradas
De me fazerem participar das conversas e risos que rolavam naquela mesa. Eu continuava insistindo a me esconder dentro de mim, tanto quanto a muito tempo eu não fazia. Ainda com alguns flashes na lembrança de
momentos, palavras, pessoas e idéias que trouxe na mente, do
Teatro e que me acompanharam e povoaram ainda por uns momentos a minha mente. Depois tentei não levar o desprazer da minha nostalgia a aquelas pessoas que ali estavam comigo. Dei alguns sorrisos amarelos e ate me atrevi a cantarolar com a Sam: alguma coisa de “construção” se me lembro bem. Quando então cheguei em casa
Me desapeguei de todos os panos que já sufocavam o meu corpo. E encarei seria e introspectiva a quem aquele espelho refletia,na tentativa de descobrir em que parte de mim me desprendi. Quem sabe encontrar uma resposta muda
Dentro de um olhar já intimo. Enfim não obtive nenhum avanço. Me restou apenas tentar me transportar a algum lugar onde a história não fosse minha, as dores, os traumas, os medos, estivessem expostos em outra moldura. Na qual eu pudesse me dar ao luxo de fazer apenas uma análise fria dos sentimentos alheios.E então fui procurar um livro,encontrei em meio as tralhas que guardo, a “poesia errante de Carlos Drummond de Andrade”
e quando me deparei com:
"PASÁRGADA,O SOFA DESSE APART,RECADO AO POETA E PROCURANDO UMA ALEGRIA"
Veio pela primeira vez uma coisa a ficar clara na minha mente. -Só entenderá o poeta aquele que sofrer-, e então como num passe de mágica a poesia inexplicável se torna clara. A partir dali, só por aquele momento deixei de lado a minha existência e mergulhei no coração do poeta noite adentro.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Entre um salto e um all-star
O dia mal começa e ela já está na terceira chamada do meu cel. Daqui a 2 horas eu tenho que levantar para trabalhar, mas quem se importa? Ela? "São 5 da manhã caramba, vai dormir, não tenho tempo agora para sua ressaca moral. Dá um tempo vai!" Mas, pior do que a ressaca moral dela é a minha ressaca teatral. Acho que esqueci de voltar ao meu eu ontem à noite antes de dormir. Acordei, talvez, ainda dentro desse personagem medíocre de mal amada conformada, não sei bem. Meu cabelo cheira a vodka e meu orgulho dói. Será que uma aspirina resolve? Enquanto me dirijo a cozinha, os flashs da noite anterior vão se desenrolando feito filme de terror. Esquece a aspirina, eu quero um anestésico! Preciso não lembrar que fui até o meio do fundo do poço essa noite. Não que eu tivesse orgulho suficiente para não me deixar cair tão fundo. Mas é que a aquela altura do campeonato, depois de um copo quebrado na mesa e ceninhas patéticas de ciúmes de ambas as partes, eu já não sabia nem dizer mais pra que lado ficava o fundo. Ela pisou e chicoteou o resto de orgulho que me sobrou depois dela. Ela esfregou três mulheres diferentes na minha cara lavada e passada, com uma arrogância tamanha, enquanto eu ali sentada na mesa no canto da boate assistia tudo, de frente para todo o circo e com um masoquismo de dar inveja. -Nem vem, nem chega perto.- Tá! Agora resolve chorar, agora chega de mansinho, pede licença, me puxa pelo braço, cheia da razão que me roubou. Mas depois de tudo isso, não entro mais no teu vale movediço, não mais, nunca mais. E mesmo que eu quisesse sacrificar as sobras do meu orgulho, você não deixou o suficiente para isso essa noite. Hoje foi a última gota, aquela quase seca. Vou agora me afogar no porre que acabou de me sorrir pela terceira vez do meio da pista. Ela não usa all-star. Ela esta de salto e acredite, pretendo fazê-la descer divinamente. Já que me recuso a descer catastroficamente do meu, diante de tuas provocações. No susto, me viro, meus olhos enxergam faíscas e vêem pela fechadura o nada em que você me transformou. Te vejo agora aqui na minha frente, na forma de um mosaico mal montado, com esse copo vazio na mão. E por alguns traços teus que ainda consigo ver, não te falo e te faço enxergar o nada que acabaste de se transformar para mim. Simplesmente te pego pela mão, ao final de tua cena e te ponho em um taxi. Tropeço em um salto jogado no chão, que não me pertence. Não adianta me ligar, vou voltar pra cama, pois ela está quentinha e o dia amanheceu frio hoje. Tomamos um banho e ela lavou a vodka que você derramou em seu rosto, enquanto eu lavei você, derramada em meus pulmões. Enfim o ar esta leve.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Sou eu
Sou eu, quem bate na porta do teu sono todas as noites.
Sou eu, te ligando quando você acorda assustada achando que ouviu algo.
Sou eu, quem te cobre quando você não entende o frio passar de repente, na madrugada. Mas o teu sono ta tão grande e você não para pra pensar muito.
Poise!Sou eu.
Sou eu, o olhar misericordioso naquela criança do farol.
Sou eu, quem buzina atrás, porque você se distraiu e quis retroceder.
Sou eu, a gota que cai do copo gelado onde você tenta me afogar.
Sou eu, quem, sentada no banco da praça te olha e te guarda, enquanto você segue e não sente medo.
Sou eu, a referência que te deram.
Mas você!
É aquela,
Que me mata um pouquinho mais,
Todos os dias.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Me segura vai
Eu olhava para a colher com aquele remédio amargo e criava forças para colocá-lo na minha boca. O ruim de ser adulto é porque você mesmo tem que colocar a colher na boca. Era tão mais fácil quando eu era criança e alguém me segurava enquanto minha mãe abria minha boca e empurrava goela abaixo. As vezes eu queria que alguém me segurasse, abrisse minha boca e socasse tudo que não entendo desse mundo goela abaixo e pronto. Seria tão mais simples. As vezes eu queria que tudo o que eu não sei sobre a vida me fosse enfiado goela baixo. Dói mastigar o mundo devagar.As vezes brilha,mas é apenas vidro mesmo, e sangra.Cansei de sangrar,quero o mundo goela abaixo. Talvez assim o meu talento para entortar corações, incluindo o meu, diminuísse um pouco. Mas você sim, você me dava tudo na boca, você me dava seu amor, sua dedicação, suas tentativas infinitas de paciência, suas respostas tortas fatigadas, suas implicâncias já tão íntimas, suas imposições, sua impulsividade, seus gritos no meu sono, sua dor calada, seus bloqueios, aqueles que eu tirei e aqueles que surgiram por minha causa. Você me enfiou tudo goela abaixo e eu fiquei tão abarrotada de você, que de tão pesada eu nem saia mais de casa, nem do espaço cercado do meu coração. Já não tinha mais espaço para os meus dramas, dores e soluços, porque tudo era sugado por você, te deixando pesar do pior que eu poderia oferecer. Eu queria ser melhor, melhor pra você, melhor pra mim, mas eu não consigo nem ser melhor pro nosso cachorro, aquele mesmo que nem chegamos a ter. Então na falta do cachorro pra me olhar agora com desprezo e decepção, eu mesma me olho, eu mesma me renego, lato, gritando pra dentro do meu ser, como somente seres de alma pura como os cachorros conseguem fazer. Eu agora imito, como quem diz –você não vai fazer nada?- com o olhar que beira entre a ira e o pedido de misericórdia, porque o cachorrinho pidão que vive em de mim, te quer de volta e até meu egoismo te quer de volta. E só por isso ele,assim tão canino, me da uma trégua e se deita aos meus pés agora, esperando que você surja e me pergunte se eu quero chá. Eu não sei ser adulta e eu não sei te chamar de volta. Por isso arromba a porta, se enfia goela abaixo e arranca de uma vez esse nó que se instalou na minha garganta. É tudo o que eu te peço.
domingo, 4 de julho de 2010
Entre bolinhas, br’s e todos os tipos de certeza
"Textinho de fim de Domingo. Espero que gostem"
O rádio do vizinho me desperta meio atônita. Enquanto centralizo o universo ainda desfocado nos meus olhos fechados, Rita Lee canta “Meu doce vampiro” e eu acordo com gosto de sangue na boca. Eu poderia muito bem comprar uma Harley Davidson e sair pelas br’s "the guevareando" com uma mochila nas costas abarrotada das minhas certezas. Com os cabelos soltos,a alma solta e principalmente com o coração livre leve e solto. Mas a minha bola de chumbo de estimação pende para fora da minha cama, esticando a corrente e me fazendo lembrar quem é que manda. Decido então ir bater perna no centro da cidade. Ela me olha e meu coração treme, não consigo sair do lugar. Ela é minha e eu sou dela, e esse certeza que magicamente nos envolve naquele momento me puxa para dentro da loja. -Ela é perfeita e eu vou levá-la-. Pego, e sem provar me dirijo ao caixa, antes que a fatídica realidade do valor daquela blusa, me cause a angústia típica de quem vai fazer o último ato de compulsividade com o seu cartão de crédito quase estourado... Entro na fila. “Você deveria ter menos verdades absolutas na sua vida, são elas que te impedem de crescer” diz a garota para a namorada á minha frente. Ela olha para o lado e suspira. E naquele momento aquilo me atinge como um soco no estômago. Atinge todas as minhas verdades absolutas, uma a uma. Ela sai da fila e a namorada fica lá, sozinha, convencendo a si mesma de que não se importava. E lá estávamos eu e ela, duas solitárias em uma fila, cheias de nossas verdades absolutas. Meu celular toca, enquanto explicava a uma mulher que o símbolo tatuado no meu tornozelo representava a Santa Trindade. Peço licença e atendo. É uma amiga me avisando que eu havia ganho em uma promoção no twitter, um par de ingressos para aquele show que eu estava esperando a meses. Bendita seja a internet. Compro a blusa. Já que até a Stefhany tem certeza que é absoluta,porque não as minhas certezas fúteis também serem. Saiu da loja. Bolhinhas voam pela Conde da Boa Vista, alí onde pessoas carentes por migalhas de bênçãos, jogam moedas em uma vasilha no chão. E depois de escutar Deus ti abençoe, lá vamos todos nós, esperando as bênçãos da vida. Tanta gente querendo me ensinar a viver e só o que eu desejava naquele momento era ser abençoada, e sair por ai desfrutando a liberdade da revolução feminina, revolução política, francesa, estudantil, industrial... enquanto a verdadeira revolução acontece entre as 4 paredes do meu ser altruísta e ao mesmo tempo despreocupado. Agora toda a minha angústia matinal havia passado e eu tinha nas mãos o poder de conquistar o mundo, armada daquela blusa linda, preta, com o seu enorme decote nas costas, afinal que mulher -boboca ou não- não se sente poderosa e invencível com uma blusa nova?! E fecho com a ligação, que me fez esquecer da minha solidão absoluta.
O rádio do vizinho me desperta meio atônita. Enquanto centralizo o universo ainda desfocado nos meus olhos fechados, Rita Lee canta “Meu doce vampiro” e eu acordo com gosto de sangue na boca. Eu poderia muito bem comprar uma Harley Davidson e sair pelas br’s "the guevareando" com uma mochila nas costas abarrotada das minhas certezas. Com os cabelos soltos,a alma solta e principalmente com o coração livre leve e solto. Mas a minha bola de chumbo de estimação pende para fora da minha cama, esticando a corrente e me fazendo lembrar quem é que manda. Decido então ir bater perna no centro da cidade. Ela me olha e meu coração treme, não consigo sair do lugar. Ela é minha e eu sou dela, e esse certeza que magicamente nos envolve naquele momento me puxa para dentro da loja. -Ela é perfeita e eu vou levá-la-. Pego, e sem provar me dirijo ao caixa, antes que a fatídica realidade do valor daquela blusa, me cause a angústia típica de quem vai fazer o último ato de compulsividade com o seu cartão de crédito quase estourado... Entro na fila. “Você deveria ter menos verdades absolutas na sua vida, são elas que te impedem de crescer” diz a garota para a namorada á minha frente. Ela olha para o lado e suspira. E naquele momento aquilo me atinge como um soco no estômago. Atinge todas as minhas verdades absolutas, uma a uma. Ela sai da fila e a namorada fica lá, sozinha, convencendo a si mesma de que não se importava. E lá estávamos eu e ela, duas solitárias em uma fila, cheias de nossas verdades absolutas. Meu celular toca, enquanto explicava a uma mulher que o símbolo tatuado no meu tornozelo representava a Santa Trindade. Peço licença e atendo. É uma amiga me avisando que eu havia ganho em uma promoção no twitter, um par de ingressos para aquele show que eu estava esperando a meses. Bendita seja a internet. Compro a blusa. Já que até a Stefhany tem certeza que é absoluta,porque não as minhas certezas fúteis também serem. Saiu da loja. Bolhinhas voam pela Conde da Boa Vista, alí onde pessoas carentes por migalhas de bênçãos, jogam moedas em uma vasilha no chão. E depois de escutar Deus ti abençoe, lá vamos todos nós, esperando as bênçãos da vida. Tanta gente querendo me ensinar a viver e só o que eu desejava naquele momento era ser abençoada, e sair por ai desfrutando a liberdade da revolução feminina, revolução política, francesa, estudantil, industrial... enquanto a verdadeira revolução acontece entre as 4 paredes do meu ser altruísta e ao mesmo tempo despreocupado. Agora toda a minha angústia matinal havia passado e eu tinha nas mãos o poder de conquistar o mundo, armada daquela blusa linda, preta, com o seu enorme decote nas costas, afinal que mulher -boboca ou não- não se sente poderosa e invencível com uma blusa nova?! E fecho com a ligação, que me fez esquecer da minha solidão absoluta.
Ela e aquele amor
Eu sei. Eu sei que é ela que você ama, mas espera amanhecer para o seu pedido de desculpas ser a primeira coisa que ouvirei ao acordar. O sol bate no colar de prata que ela te deu e reflete nos meus olhos e algo pesado passa pela minha garganta e cai direto no meu ventre. E cai novamente. Cai todas as vezes que olho para o seu pescoço. A nossa aliança de compromisso, solitária na minha mão direita, corroe de ciúme da sua que divide espaço com o anel de tucum que ela ti deu, e você insiste em dizer que é amizade. Diz isso pro meu choro calado enquanto você dorme, porque ele não me escuta, quem sabe você. Ou então chora comigo, até não haver mais o que chorar,pra que, quando você tiver bebido além da conta ,não derrame novamente aquelas lágrimas infelizes, enquanto me diz o quanto me ama "TAMBÉM". E ao invés de chorar, dessa vez eu iria rir, rir da minha desgraça, enquanto te dou banho, porque você não se agüenta em pé, e depois de te por na cama. Fechar a porta e ir embora, pra nunca mais voltar.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Eu sempre quis ser isso mesmo
Nunca gostei muito de gatos. São muitos fofinhos e lindos, mas são independentes demais para a minha monofobia. Sem falar que seus pêlos se soltam muito facilmente, o que ataca a minha rinite. Entro no seu quarto. Você me apresenta a Pandora e sorrindo me diz - É a nossa filha-. Eu a pego no colo e ela se derrete toda nos meus braços, com uma naturalidade de quem não tem medo da rejeição que chega a me dar inveja. Não! Os pêlos dela não estão se soltando tanto, e seus olhinhos se fecham enquanto eu acaricio seu pescoço que vai pendendo levemente para o lado. Ela pula do meu colo e vai brincar, voltando vês ou outra para novas doses de cafuné. Lá pelas tantas da madrugada, já meio sonolenta, eu me deito nas suas pernas, encaixando minha cabeça entre seu quadril encostado no canto da cama e o notebook em cima dos seus joelhos. Eu cochilo um pouco enquanto você checa seus emails, mas logo sou desperta por patinhas bebês que sobem pelo meu braço. Abro o canto do olho e ela me olha como quem pede licença. Me viro e deito-a no meu tórax. Ficamos cara a cara, olho no olho. Ela demonstra estar a vontade ao meu lado. Ela me cativará. Faço carinho na sua barriga e ela adormece. Como disse nunca gostei muito de gatos, mas derepente lá estava eu, dividindo meu carinho com aquela criaturinha, que me mostrou que mesmo sendo tão livre, sem cerimônia veio em busca do meu colo, deixando claro que só queria estar ali e pronto, sem nada cobrar. Logo eu que sempre preferi os cachorros, mas apegados e sentimentais. Sempre prontos para dividir o seu dia comigo. Me fazer ver a pureza do mundo no único lugar onde ainda se pode encontrá-la na sua forma mais sublime. Neles. A razão do nosso sorriso após chegar de um dia ruim e estressante de trabalho. Não há festa mais sincera que a deles quando abrimos a porta de casa. Mas então lá estava ela, tão independente, com seu jeito próprio de dar e receber carinho. Antes de dormir de vez, ela da uma última olhada para mim. Traduzo aquele olhar tão familiar. Sou eu mesma. Com essa minha própria forma de dar e receber carinho. Cachorros e gatos costumam não se dar muito bem. Talvez por isso eu tenha relacionamentos tão complicados. Porque sou como esse bichano, que tanto quer ser livre, mas cheia de suas carências e seus medos do mundo. E sempre na busca de um colo canino confiável. Quem sabe um dia eu consiga ser como os cachorros, sem medo de perder o controle de mim mesma e me doar sem nenhum pé atrás. Ou, talvez eu continue sendo sim como os felinos. Mais especificamente como ela. Entregando e pedindo, sempre que desejar, sem medo e sem hora marcada e apenas seguindo meu próprio ritmo. Meu próprio coração. Sempre. E nada mais.
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