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terça-feira, 31 de agosto de 2010

A garota que traia



Ela era a garota que não conseguia ser fiel e eu queria conhecer o mundo dela. - Eu não sei não trair - me disse no intervalo entre uma música e outra. Ela e seu violão eram inseparáveis. Ela tocou para mim na porta da sua casa, quase todas as noites por quase um ano. Ela tinha uma voz sexual, e as caras e bocas que fazia quando cantava, eram dignas da fogueira da inquisição. Ela me despia com os olhos entre uma e outra canção. Ela não se intimidava com absolutamente ninguém e me olhava com ganância, sede e fome. Ela fez sexo comigo várias vezes ali naquela porta. Eu sei! Ela não me tocava, nem tentava! E isso me enlouquecia. Por mais estranho que pudesse parecer, ela tinha seu próprio jogo de sedução. Ela me contava histórias do seu mundo de meninas, e eu via todo ele no seu cheiro, quando a abraçava e seus cabelos roçavam meu nariz. O medo meio besta que sempre tive de pôr em prática o que já havia me deixado noites em claro, agora tinha um foco: Aquele mundo. E ela, a minha porta de entrada. Era isso. Da minha parte, eu só queria matar minha curiosidade cheia de fantasias, e da parte dela, ela só queria matar minha curiosidade cheia de fantasias. E assim a gente se entendia. E assim nós seguíamos o jogo. Ela nunca ficava só em casa. Naquele horário em que as moças educadas ainda podiam estar nas casas alheias, sentávamos no seu sofá, uma em cada canto, de frente pra outra. E em uma profunda, longa e ininterrupta olhada, íamos perdendo as roupas. Eu dizia o que queria com o olhar e ela obedecia. As luzes se apagavam num complô cadenciado. Quando via, tentava me segurar numa cama qualquer e ela me puxava para debaixo dela. Eu entrava na fila do supermercado e de repente estava lá de novo. Na sala, no sofá, na cama, no tapete, no chão, calculando a distância entre o seu umbigo e o meu, antes e depois da minha língua secar. O sexo com ela era o mais perfeito, ritmado, paciente, avassalador e incansável. Tudo acontecia no chão do tapete, ou seria no tapete do chão... Nem sei qual a concordância, e quem se importa com a ordem. Afinal não conseguia pensar em nada mesmo que não fosse o seu umbigo. Aliás!Conseguia sim... Mas o barulho do chuveiro desligando desvia nossos olhares, e fazemos aquela propícia cara blasé enquanto alguém passa de toalha. Mas enfim! Se um dia houvéssemos chegado às vias de fato, teria estragado tudo.

sábado, 28 de agosto de 2010

“E assim eu me apresento”


Um olhar, um desejo, um medo. A reflexão mais nostálgica de uma xícara e um cinzeiro numa noite de insônia. Uma brisa, e tudo o que é novo me invade. É o meu sangue que corre, é o meu coração que pulsa, numa roda, num bar, em qualquer lugar da boêmia, pura ou com gelo. É a certeza que tenho de todas as minhas incertezas camufladas que me formam e me dão sentido. Sem isso não sou, sem isso não quero, sem isso não tem porque. É o vício que nasceu comigo. Eu não sei quanto amor me foi jogado placenta adentro, mas nasci transbordando. Hoje sou rio, cachoeira, enchente, enxurrada que precisa sempre desaguar. Não adianta! Sem a brisa leve do vento tocando o meu rosto, enquanto fecho os olhos e enxergo a minha alma. Sem o chá de outrora já frio em cima da escrivaninha e todas aquelas razões pra minha insanidade, loucura que me alimenta. Sem o meu coração testando toda a sua resistência...-Eu não sei pra que sirvo.-
O maldito amor.
O Bendito amor.
O escasso, inalcançável e utópico amor
-É todo meu!-

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Aquele vento no litoral

(foto-autor desconhecido)

Quando a música tocou a primeira vez eu te amava. Você ia para longe de mim, e ela fez todo o sentido com todos os clichês que existem em um coração apaixonado. E o medo de um dia te perder, me fez chorar cada letra que já era nossa. E eu sorri a tua presença.
Quando a música tocou a segunda vez, você já estava longe. Aquela distância foi talvez a melhor parte do nosso amor. A mais segura. A parte em que dormíamos com a certeza uma da outra. Em que éramos só uma voz ao telefone todas as infinitas madrugadas. E eu chorei a tua ausência em todas elas. E eu esperava.
Quando a música tocou a terceira vez, tudo era onda violenta no mar, uma ampulheta desregulada. Tudo sangrava, tudo chovia, tudo era um vento forte em uma eterna tarde a beira mar. O nosso sonho já não era nosso, era alguma coisa inventada que já não nos pertencia. Estragamos cada canto,cada fresta, cada cômodo do nosso apartamento com todas as nossas palavras cortantes, enquanto as estrofes se desprendiam uma a uma. E eu? Eu me procurava.
Quando a música tocou novamente, perdi as contas. Você não era mais meu sono bom. Você agora era a minha embriaguês. Não sei por onde você andava, quando não estava na minha insônia. Mais sei que a tal canção estava em cada gole, no cheiro do álcool, no peso do gelo, no fundo onde te encontrava e fingia não te procurar. Eu chorei a sua ausência, eu chorei a nossa ausência, em cada palavra, e mesmo o mar me dizendo que a vida continua - Eu morria!-
Quando a música tocou foi agora a pouco, eu estava no banho. Eu não te via mais no reflexo do box, não cheirava mais a você a minha toalha, e pela primeira vez eu não tive medo de escutá-la até o fim. Não era mais dor, era alguma coisa com um nome novo, era outra vez alguma coisa boa, uma vontade de me cuidar, uma vontade que você estivesse bem. O coração desprendeu, e eu sorri de leve enquanto lavava os cabelos. Sorri não querer mais chorar ao ouvi-la, sorri não cheirar mais a lágrimas secas o meu travesseiro. E lembrei! O plano era ficarmos bem.

sábado, 21 de agosto de 2010

A lua cheia de “se”


Se você me visse agora, encostada na minha escrivaninha pronta para dormir, mas tendo isso como último plano. Se você me observasse segurando a xícara do café que eu bebo devagar, na sua espera. E você simplesmente não falasse nada e só me amasse intensamente. Se ao invés dessa tragada eu pudesse te tragar com o olhar nesse momento. Eu entenderia porque anoitece, porque a fumaça tem som de blues. Agora eu entendo a madrugada, é pra isso que ela serve, para que eu possa sorrir pra essa lua cheia tentando se esconder atrás do teu olhar, enquanto você saboreia o meu silêncio com a devoção de quem sabe o que é amar. Se você pudesse tocar os meus cabelos, se você chegasse mansinha e pegasse a minha mão, eu não precisaria te contar meus segredos, meu mistério te bastaria. Se eu sentasse a tua mesa e você me oferecesse um drink, enxugasse minha lágrima com o canto do indicador, me falasse dos teus planos, me colocasse no teu colo, o brilho do teu sorriso formaria um arco-íris no breu do meu. Se a tua estrada fosse outra que não a minha, você odiaria todas as minhas loucuras e eu te botaria pra correr. Se você não tivesse nascido, eu teria um chamado para o celibato. Se você não estivesse me procurando, eu já teria filhos, um cachorro e uma história.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Minha Estrela pequenina


Menina!Para de esbarrar em mim com o corpo todo suado como se fosse sem querer,todas as vezes que eu passo do lado da quadra espaçosa do teu sorriso. E eu paro de me exibir pra você quando to pulando elástico de frente pro seu campeonato de cartas marcadas. Não me olhe como se eu fosse só a primeira amostra do que a vida te reserva. Quando você ainda nem consegue perceber, que o que a vida te reserva é tudo o que você já sabe e tem medo de ter certeza. E eu paro de te olhar como se tudo o que eu desejo estivesse por ai, ainda a tua procura. Você ainda nem sabe quem é de fato,mas experimenta me pagar um milk-shake com as moedinhas que você economizou durante a semana, só pra me mostrar que você pode ser muito mais. E eu te dou os milhões de retratos teus, que os meus olhos tiram todas as vezes que te vejo,só para te colecionar, caso ao amanhecer você evapore como um sonho bom. Me deixa subir no teu ombro pra que eu possa ficar tão alta, como quando sinto o toque (sem querer) da tua mão na minha, no corrimão da escada depois que bate o intervalo dessa vida miserável e hipócrita. Quando você parar de fingir que não me ama, não sei se trapacear no pêra, uva, maçã e salada mista, sob olhos de um outro mundo, vai me tirar esse medo que também sinto de me perder num caminho escuro e sem garantia de volta, no percurso entre cada estrela que brilha bem no alto do céu da tua boca. Eu quero ver quando essa mão subornada que finge que tapa o teu olho a cada amanhecer, te deixar ver também quando não for eu, pra que assim eu possa perceber que você escolheu negar o afago de outra mulher. E que quando teus olhos se abriram, na tua cama vazia ainda permanecia o meu cheiro, intacto e guardado. Ai sim!Te entregarei os meus sonhos, embrulhados na fitinha azul que prendia o meu cabelo quando te vi pela primeira vez. E nessa noite me leve a um bom restaurante, trajando o teu melhor sorriso. E dance comigo ao som do jazz a meia luz. E quando um blues começar a tocar , perceba o sinal. E me dê de uma vez aquela estrela guardada na caixinha de jóias, que você foi buscar antes mesmo de me reconhecer. Enquanto eu vagava perdida pelas ilusões da vida. E que você guardou até esse momento embaixo do teu travesseiro, enquanto eu limpava o meu ser até ecoar, de todas as promessas não cumpridas que só serviram pra me fazer ver que ainda não era você, e ficando mais uma vez a espera da tua luz que me faria sentir viva.Porque o simples brilho dos olhos,acenderia o cosmos ao nosso redor e calaria toda promessa vã,secaria toda lágrima de decepção e sararia todos os aranhões que sofri, escalando os muros que me impediam de ver o brilho que escapava do teu travesseiro, e atravessava a tua janela, durante todas essas noites, em que você incansavelmente me esperou entrar pela tua porta, com uma rosa na mão.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Eu já!


Você já amou? Pela beleza do gesto!
Você já mordeu? A maçã com todos os dentes!
Pelo sabor do fruto!
A sua doçura e o seu gosto! Já se perdeu algumas vezes?
Pelo sabor do gesto?



(Texto extraido do filme "Les chansons D'amour")

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Carta para aquele futuro verdadeiro amor





Não, eu não sou bailarina, mas se quiser posso fazer um demi-pliè totalmente pessoal. Não, não é ela, ela é baixa demais, eu tenho 1,70 m e com certeza não me comportaria dessa forma. Sim, eu já chorei por você, mas só nas vezes em que vi que ainda não te achei. Claro que vou te abraçar na madrugada chuvosa, mas sou um pouquinho menos perfeita do que você imagina. Sou um pouquinho neurótica, um pouquinho esquisita e, às vezes, acordo com um humor do cão. Não gosto de rotina e odeio excesso de cobrança. Na verdade, não sou nada perfeita. Mas, sei que esta parte vai ficar escondida atrás do meu sorriso convidativo ao receber um carinho teu.Veja só: se ela fosse eu, se atiraria daquela forma para aquela desconhecida no bar, sem ao menos notar a sua presença? Não, definitivamente não. Tudo bem, talvez eu não consiga ser muito boa em fazer o seu prato preferido, mas, vou te abraçar forte quando você estiver assustada e te dizer que está tudo bem. O meu nome é o que menos importa - já que você vai me reconhecer pelo olhar. Então...Não tente adivinhar ok. Han? Se eu estou perto? Tipo, na mesma cidade? Não se preocupe, o caminho até o seu coração já foi desenhado, não há como não chegar, mesmo que a distância seja entre continentes. Agora, tenta não abarrotar muito a tua bagagem, porque eu estou chegando apenas com o meu coração no bolso esquerdo. Não se preocupe tanto com aquelas feridas que ainda não cicatrizaram - com certeza, não vou chegar aí sem um “kit primeiros-socorros”. Não, eu não estou olhando pra essa lua cheia agora, porque - ao invés disso - estou deitada na minha cama escrevendo pra você. Posso sim te acordar com um café da manhã na cama, vestindo algo desarrumadamente sexy, se prometer me agradecer com esse sorriso bobo que você faz agora enquanto está pensando nisso. Eu sei, eu também queria chegar mais rápido ao nosso tempo, mas a estrada tá meio congestionada, às vezes fico na ponta do pé pra ver se estou mais perto,às vezes acho que estou, às vezes não. Enquanto isso, se a noite esfriar um pouco e ela não te cobrir, se ela não compreender teu olhar pedindo carinho, se ela não te abraçar depois de uma briga, se ela não dançar e sorrir pra você como se não existisse mais ninguém no mundo que importasse, se ela não souber olhar nos olhos, se ela não é confusa e apaixonada, se ela não for um pouco implicante, um pouco manhosa, um pouco louca, um pouco sonhadora, um pouco medrosa, um pouco livre e se ela não consegue enxergar cada uma de todas as tuas cores. Fique atenta, essa definitivamente não sou eu.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Eu falhei


Eu falhei. Eu te tirei do teu casulo e te pus a beira do precipício do meu coração. Eu sonhei de novo e achei que seria fácil. Não fala nada, não adianta, eu vou andar pelos becos e ruelas da vida e te dar as costas. Você vai ser feliz e me odiar, eu vou ser feliz e me odiar. Tudo esta caminhando como deveria. Estou cansada. Vou revirar latas e cheirar postes na madrugada enquanto espero que você encontre logo um novo amor. Vou entrar no primeiro botequim e beber cada uma dessas palavras que em nada me ajudam. Você? Você vai chorar, se formar e ganhar o mundo. O que eu poderia estragar já estragou. O que você poderia reconstruir já passou com o tempo. Acabaram as fichas de você. Desculpe, vou ter que desligar dessa história. Vou comprar minha passagem, vou sentar naquela poltrona e ler meu livro novo. Vou flertar com a linda mulher que acabou de sentar do meu lado, me comeu com os olhos e sorriu perigosamente. Enquanto você me esquece por ai. Quem sabe um dia a gente se esbarra em algum canto do mundo. Cada uma com seu novo amor, e você lindamente feliz me apresenta seus filhos. Depois partimos cada qual pro seu lado e talvez olhemos disfarçadamente para trás...ou não.